quinta-feira, 29 de agosto de 2024

EPR - A ascensão das Sombras - Segredos de Serra do Lago: Mateus Brooklet-Andrade [REALITATE 1.5]

  Arthur Rizzi Ribeiro

Créditos ao Microsoft Designer

Mateus Brooklet-Andrade é o típico nerd clássico, apaixonado por tudo o que envolve mundos de fantasia e conhecimento especializado. Filho de Claire Brooklet-Andrade, uma inglesa que se radicou no Brasil, e Rodolfo Andrade, um empresário de sucesso no ramo editorial, Mateus cresceu cercado por livros e histórias, influenciado pelo legado de seu avô, Arthur Brooklet. Arthur, um renomado escritor inglês nascido em 1963, morou em Serra do Lago entre 1998 e 2008, e faleceu em 2022, aos 59 anos, após retornar a Inglaterra, país onde faleceu. Arthur escreveu sua maior obra em Serra do Lago: "The Clicker" (1999), um romance policial sobre um assassino de atrizes pornográficas.

Mateus encontra prazer em hobbies como RPG, Magic: The Gathering, e é fascinado por Climatologia, animes e quadrinhos. Sua vida, no entanto, não é só sobre jogos e ciência; ele nutre uma paixão por Natasha Ribeiro e Vargas, uma das garotas mais populares e influentes do Colégio dos Pioneiros. Natasha é uma feiticeira de 17 anos e uma das "mean girls" da instituição, o que faz com que a atração de Mateus por ela seja tanto fascinante quanto desafiadora.

MATEUS BROOKLET-ANDRADE (NÍVEL 3)

FOR

HAB

INT

APA

RES

PV

ENG

PdA

4

4

6

5

46

6

1

Dano Básico

Justificativa

1d3

Coadjuvante

Corpo-a-Corpo: 8+BdA+2d6

A distância: 4+BdA+2d6

Defesa: 8+2d6

Mágico: Not Available

Conjuração: Not Available


PODERES4slots:

Boa Fama (1)

Observador [1]

Inimputável [1]

Aparência Inofensiva (1)


Peculiaridades:


[-1] Menor de Idade (Dependente)
[-1] Ingênuo.
[-1] Míope
[-1] Desastrado
[+1] Talento para cultura nerd


Conhecimentos:

Profissional (Cultura Nerd) 1 [0], Geografia 1 [2], Física 1 [2], Artes (Desenho) 2 [4], Matemática 1 [2] 

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 2 - Parte 1

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro

Dante havia ligado para Junior com uma voz tensa que ele nunca tinha ouvido antes.

— Junior, preciso de você no hospital agora. Tem algo... Muito errado aqui. Precisamos salvara  filha da Nazhí, que está aqui.

Sem fazer perguntas, Junior pegou suas coisas e partiu. Ao chegar, ele entendeu a urgência. As luzes piscavam intermitentemente no corredor, e um rastro de destruição marcava o caminho.

— O que diabos aconteceu aqui? — Junior murmurou para si mesmo.

Ele não precisou de respostas, pois logo avistou Jacob, um samurai de cabelos desgrenhados e olhar assassino, cortando a multidão como se fossem grãos de areia. O chão estava pintado de sangue.

—  Quem é você? —  Perguntou Junior —  O que você quer?

— Jacob! — Ele respondeu. 

— Isso não precisa terminar assim! —  Junior gritou assumindo pose de luta.

Jacob parou por um momento, sua espada gotejando. Ele virou a cabeça lentamente, seus olhos brilhando com uma fúria contida.

— Eu faço o que precisa ser feito, garoto. E você está no meu caminho.

Antes que a situação pudesse se agravar, Caim surgiu das sombras, as mãos envoltas em um brilho sombrio.

— Não precisamos lutar, Jacob. Há outra maneira — Caim disse, mas seu tom era frio, pronto para a batalha.

Jacob sorriu, um sorriso sem humor.

— Palavras de paz de alguém que caminha na escuridão? Poupe-me.

E assim, a luta começou. A batalha foi brutal e rápida, o som da espada cortando o ar ou retinindo em paredes de concreto e drywall, ecoando como trovões abafados pelos corredores. Junior e Caim lutaram como se suas vidas dependessem disso — e talvez dependessem. Após diversos golpes e esquivas, com um golpe certeiro, Junior conseguiu desarmar o samurai, derrubando sua espada com um clangor metálico que ressoou no silêncio repentino.

Ele no entanto, tinha uma carta na manga e emitiu um feitiço de ilusão. Na ilusão. Junior estava com Aline, eles estavam num jantar romântico, onde ele pedia Aline em casamento e ela aceitava maravilhada. Nova Iorque era uma cidade linda, e após o jantar eles passearam pelo Central Park durante a noite.

Jacob lutou com Caim, que além de impedir o avanço dele, teve de se esforçar para impedir que Junior, paralisado em torpor, fosse atingido pelo samurai-bruxo. O samurai, retomou sua lâmina aparentemente mágica, e voltou com força par ao combate, Caim se segurando como podia. Junior, quando estava para viver um momento mágico com Aline, de repente se pegou e se percebeu num corredor de hospital. Ele percebeu a ilusão. Com raiva, ele partiu para cima de Jacob, que já estava cansado. Jacob, percebendo que estava em desvantagem, ergueu as mãos em rendição.

— Esperem — ele disse, respirando pesadamente. — Vamos fazer um acordo. Eu ofereço minha vida em troca de algo valioso para vocês.

Junior trocou um olhar com Caim.

— Que tipo de acordo? — Caim perguntou, seus olhos estreitados em desconfiança.

— Informações — Jacob respondeu. — Sobre um grande assalto ao Museu de História Natural, planejado para ocorrer em duas semanas. Vocês me ajudam, eu ajudo vocês.

Relutantes, mas sem muitas opções, Junior e Caim aceitaram.

— Você tem sorte de que precisamos dessas informações, Jacob — Junior disse, abaixando a guarda. — No entanto viemos também por Chole, filha de Nazhí! — Junior exclamou.

Jacob assentiu que sim com a cabeça, dando permissão para a refém sair. E Chloe saiu para trás de Caim e Junior.

— Temos um acordo? — Perguntou o samurai-bruxo.

— Sim. Mas um movimento errado, e você vai desejar ter continuado lutando. — Junior ameaçou.

Na saída do hospital, a tensão ainda pairava no ar, mas o grupo tinha uma nova missão.

— Isso foi só o começo — Caim murmurou, enquanto eles se afastavam do prédio.

Longe dali, a viagem pela reserva ambiental em Jersey era para ser apenas um breve desvio, mas logo perceberam que estavam sendo seguidos. Aline ainda estava incomodada com os planos e a visão de Isaac, e ela estava ali para ajudar Nazhí, uma senhora cega que havia conhecido. Ela pedia ajuda para proteger algumas crianças que estavam sendo levadas para experimentos pelos que se apossaram ilegitimamente do poder do Arkaneus de Toronto.

— Algo não está certo — Rebecca disse, seus sentidos em alerta.

Não demorou muito para Kazall, um criminoso infame, aparecer, sua presença carregada de malícia.

— Vocês não deviam ter vindo aqui — Kazall rosnou, avançando sobre eles.

— Esse cara parece ser bem forte —  pensou Benjamin.

— Isso é péssimo! —  Exclamou Aline.

— Podia ser pior! —  Falou Benjamin.

Olhando para Rebecca, Aline não pôde deixar de perguntar:

—  Ele é sempre ortimista assim?

— Sim, e isso é que ele nem tá nos momentos mais otimistas! 

Crendeuspai —  Falou Aline pensando se seu idealismo não era, por vezes, tão irritante quanto o otimismo de Benjamin.

Benjamin e Rebecca se preparava para uma luta contra o mutante criminoso alado, quando Aline, percebendo a gravidade da situação, olhou para o céu e tomou uma decisão.

— Vou precisar de ajuda para isso — ela murmurou para si mesma, antes de desenhar rapidamente um círculo de teletransporte no chão.

— Helena, preciso de você — Aline sussurrou, ativando o círculo.

Em questão de segundos, Helena Costa e seus dragões apareceram em Nova York.

— Aline? Por essa eu não esperava — Helena disse, montada em um dos dragões.

— Temos que acabar com isso rápido — Aline respondeu. — Eles só têm 40 minutos aqui.

Os dragões rugiram no céu, e em questão de minutos, Kazall foi derrotado, sua arrogância esmagada sob o poder devastador das criaturas.

— Bem, isso foi eficiente — Benjamin comentou, observando enquanto Kazall era devorado vivo

— Não podemos descansar ainda — Aline disse, sua voz carregada de preocupação.

De volta ao carro, Benjamin dirigia enquanto Aline olhava pela janela, tentando processar tudo o que havia acontecido. Foi quando ela viu algo que a gelou até os ossos. Um lobisomem se aproximava furtivamente de um grupo de crianças indefesas, protegidas apenas por Clover, uma menina que ela havia visto na TV, sendo sequestrada por Kent Paul, presa em um carro quebrado.

— Pare o carro! — Aline gritou, saltando antes mesmo que Benjamin pudesse responder.

— O que você vai fazer? — Benjamin perguntou, mas Aline já estava correndo em direção ao perigo.

— Vou resgatar a menina e as crianças. —  Gritou Aline.

—  O que eu faço? —  Perguntou Rebecca 

—  Fica no carro, não deixa ele morrer! Benjamin... —  Aline arfou e completou — Ganhe tempo para mim!

— Como assim? Você quer que eu enfrente aquilo? — Ele perguntou um pouco assustado.

Aline sorriu sarcasticamente e respondeu:

— Sorria! Podia ser pior!

Benjamin ficou levemente incomodado pelo sarcasmo da loira de cabelo shaggy short bob. 

Furtivamente, enquanto Benjamin se esquivava dos golpes do lobisomem, Aline se aproximou das crianças e da ruiva.

— Você está bem? — Aline perguntou, ofegante.

Clover assentiu, ainda em choque. Aline abriu a porta do veículo e pediu que ela corresse com as crianças.

— Obrigada. Eu não sei o que teria feito sem você.

Aline sorriu, mas sabia que as batalhas que enfrentavam estavam longe de terminar. O perigo ainda espreitava, e ela precisava estar pronta. Vendo Benjamin em maus lençóis, com precisão letal, Aline atacou o lobisomem pelas costas.

Makrós!  Uma grande seta negra viajou e acertou as costas do monstro causando um ferimento leve. — Vai embora, criatura maldita! 

Em seguida Helena, que havia derrotado Kazall se apresentou com seu dragão no campo de batalha. Forçando o Lobisomem a se render. Transformado novamente em humano, Helena se despediu de Aline e retornou a Serra do Lago, ao fim do efeito mágico do círculo de teletransporte.

(Continua...)

sábado, 24 de agosto de 2024

EPR - A ascensão das Sombras - Segredos de Serra do Lago: Natasha de Ribeiro e Vargas [REALITATE 1.5]

 Arthur Rizzi Ribeiro

Créditos ao Microsoft Designer

Natasha de Ribeiro e Vargas é uma jovem de 17 anos sedutora e manipuladora, que sabe exatamente como usar sua beleza e charme para conseguir o que deseja. Pertencente a Linha do Tempo classificada pelo XBI/DIX como LK2-004. Ela é oriunda de uma das famílias mais tradicionais de Serra do Lago, Natasha está acostumada a estar no centro das atenções e gosta de manter seu status de "queen bee" entre seus pares. Ela exala confiança e sempre parece estar em controle, sabendo como jogar com as emoções e ambições dos outros para obter vantagem.

Natasha é uma verdadeira "mean girl," conhecida por seu comportamento calculista e por manter um círculo social exclusivo, onde apenas os mais influentes ou úteis têm permissão para entrar. Ela tem uma língua afiada e não hesita em usar fofocas e intrigas para derrubar aqueles que ousam desafiá-la. Seu charme é tanto uma arma quanto uma defesa, permitindo-lhe manipular situações a seu favor e deixar uma trilha de corações partidos e reputações destruídas por onde passa. Teve um passado complicado de negligência parental e abuso. Isso a moldou como ela é, mas há quem diga que ela não é de todo ruim.

NATASHA VARGAS (NÍVEL 5)

FOR

HAB

INT

APA

RES

PV

ENG

PdA

4

6

4

6

47

8

1

Dano Básico

Justificativa

1d3

Coadjuvante/Antagonista

Corpo-a-Corpo: 10+BdA+2d6

A distância: 6+BdA+2d6

Defesa: 10+2d6

Mágico: 11+NPM+2d6

Conjuração: 2d6 vs. 7


PODERES5slots:

Poder Mágico 2 [3]

Observadora [1]

Inimputável [1]

Status 1 [0]


Peculiaridades:

[2] Aristocrata
[-1] Menor de Idade (Dependente)
[0] Mago
[-2] Má reputação: Vadia.
[-1] Gosta de torturar psicologicamente rapazes tímidos.
[+1] Talento para Conjurar


Conhecimentos:

Sedução 2 [2], 

Magia:

Analgesia (Luz, Nível 1) [1]
Dor (Trevas, Nível 1) [1]
Detectar Magia (Sem Escola, Nível 1) [1]
Invocar Goblin de Terra (Elemental, Nível 1) [2] 

domingo, 18 de agosto de 2024

[REALITATE] Bafos do Abismo: O que são?

Quando uma pessoa tenta trazer uma pessoa dos mortos ela tem de saber em primeiro lugar onde esta pessoa está. O logos residual dessa pessoa, que é o conceito mais próximo do de alma que existe no cenário de "O Cosmogônico" e "As Crônicas de Serra do Lago" tem três destinos após a morte de uma pessoa, sendo eles: O pleroma ou fonte, o momentum do Demiurgo e o Abismo.

  • A fonte ou pleroma é o conceito mais próximo do céu ou do paraíso cristão. Nele o logos do indivíduo perde sua individualidade e é dissolvido no todo do Onthos Protéron, uma vez dissolvido no Um, não há como recuperar o que a pessoa foi em algum momento. Nem mesmo a Pena de Amenófis poderia fazê-lo. Resta ao logos aproveitar a comunhão com um um num instante eterno de prazer e plenitude.
  • O momentum do Demiurgo é uma mistura de purgatório e inferno. É uma realidade onde sentimentos terrenos caóticos se misturam como na existência material. Do prazer sexual mais intenso a dor carnal mais absurda, tudo isso se abate sobre o logos residual da pessoa. Uma existência no momentum certamente foi uma existência má, mas não irredimível. Lá estes logos aguardam por uma segunda chance caso algum feiticeiro poderoso decida invocá-lo, mas não aguarda eternamente, ao longo das gerações esse logos irá perder força e identidade até que a última pessoa sobre a terra se esqueça dela, e quando se esquecer ela é lançada no Abismo. É onde está, por exemplo, o logos residual de Marjourie Alves e Costa.
  • O abismo é o local onde é lançado o logos de uma pessoa absolutamente má e irredimível. O abismo é aquilo que você enxerga com a sola dos seus pés, é o cheiro que você sente com os seus cotovelos, é o lugar para onde o seu eu vai num sono sem sonhos. É o nada. O não-ser. A inexistência. Não é apenas um espaço vazio, é até mesmo a inexistência desse espaço. Mas ainda que a razão não alcance, esse Nada possui uma racionalidade que é temida e foi posta fora dos Reinos de Ser na fundação do mesmo. Nada lançado no Abismo volta. A única coisa que sai do Abismo é o próprio Abismo, e é aí que nasce os "Bafos do Abismo".
Os bafos do Abismo são monstros, existência amaldiçoadas, eles são criados como resultado da tentativa de trazer dos mortos alguém lançado ao Abismo. Se alguém foi entregue ao pleroma, a magia simplesmente não funciona. No entanto, se a pessoa foi lançada ao abismo, um bafo sai de lá. Bafo é literalmente uma personificação menor de nada racional, cuja única função e missão é destruir, reduzir tudo o que existe ao nada. Os bafos são racionais, mas não são negociáveis e são absolutamente irredimíveis. É possível salvar uma pessoa tocada pelo abismo? Sim, mas nenhuma magia conhecida pode fazê-lo. Somente um poder cósmico, divino, poderia fazê-lo.

Infecção:

O processe do toque pelo abismo se dá com uma contaminação espiritual, mas a criatura contaminada pode contaminar sua vítimas físicas. No sistema REALITATE 1.5 a contaminação se dá, como num filme de Zumbi, por dano físico. Mas não é qualquer dano, tem que ser um dano grande o bastante para ferir profundamente uma pessoa, mas pequeno o bastante para não matá-la. Um bafo não é um morto-vivo, e se a pessoa atacada morre imediatamente, ela não pode ser contaminada. Em termos de regras qualquer ferimentos que coloque o indivíduo entre -9PVs e 50% dos seus PVs iniciais pode se tornar um bafo.

A infecção demora dois dias e a pessoa precisa fazer dois testes de RES. O primeiro puro e simples e o segundo com redutor de -2, caso falhe no primeiro. Se a pessoa passa no primeiro, não precisa fazer o segundo.
  • Ao falhar no primeiro, veias escuras começam a saltar no seu corpo e os cantos dos olhos começam a ficar escurecidos. Um novo teste será feito seis horas depois.
  • Ao falhar no segundo, a pele começa a ficar acinzentada. A partir daí a infecção não pode ser mais contida. Em 24 horas a consciência da pessoa já terá sido substituída pelo Nada.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte Final

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro


O silêncio pesado preencheu o quarto assim que Aline caiu em um estado de catatonia. A anciã, sentindo a mudança na energia da sala, franziu o cenho. Rebecca, que conhecia Aline há mais tempo, percebeu imediatamente que algo estava muito errado. Os olhos de Aline estavam fixos, sem vida, enquanto seu corpo permanecia estático, como se a mente tivesse sido desconectada do mundo ao seu redor.

— Aline? — Junior chamou, aproximando-se com passos rápidos, o tom de sua voz carregado de preocupação. Mas ela não respondeu. Seus olhos estavam vazios, perdidos em algum lugar distante. Ele balançou o ombro dela levemente, tentando trazê-la de volta, mas ela continuava imóvel.

— Ela está catatônica, — Jorge disse, seus olhos azuis arregalados enquanto ele observava Aline com uma mistura de medo e curiosidade.

Rebecca, tomada por uma sensação de urgência, passou a mão em frente aos olhos de Aline, tentando provocar algum reflexo. Mas nada. Aline continuava congelada naquele estado, como uma estátua viva.

— O que vocês fizeram com ela? — Junior perguntou, a voz carregada de raiva e frustração. Ele sentia a impotência crescente, algo que ele odiava, principalmente quando se tratava de Aline.

A anciã, mantendo a calma, ergueu a mão pedindo silêncio. — Confie em mim, — ela disse com uma voz autoritária e serena ao mesmo tempo. — Aline tem um grande potencial, algo que talvez nem mesmo ela compreenda ainda. Ela deve ter sido atraída para o Oníron, o plano dos sonhos. Isso só poderia ter acontecido se ela sentisse uma presença tão poderosa que nem mesmo eu fui capaz de perceber.

Junior tentou acalmar-se, mas o medo de perder Aline era evidente em seus olhos. Antes que pudessem continuar a discussão, o som de madeira estilhaçada invadiu a casa, reverberando pelas paredes. A porta do pequeno refúgio foi arrancada de suas dobradiças com um estrondo, e um homem colossal entrou, com uma presença tão avassaladora quanto os quatro braços que surgiam de seus ombros. Cada movimento dele era carregado de uma força brutal, e havia algo de sobrenatural em seus olhos vazios.

Junior reconheceu o intruso imediatamente. — Isso é impossível... — ele murmurou, mais para si mesmo do que para os outros. — Esse cara se chama Bruce! Ele era um lutador de MMA. Ele está morto... — Mas ali estava ele, vivo e aterrorizante, um espectro de carne e osso.

Jorge, com os olhos arregalados, exclamou: — É um zumbi?

Rebecca, mantendo a calma habitual, estudou o homem por um momento antes de responder: — Não, ele não se parece com um zumbi... mas é algo igualmente perigoso.

Sem perder mais tempo, o mutante partiu para cima de Junior, suas mãos múltiplas desferindo golpes rápidos e precisos. Junior se defendeu com a habilidade que havia adquirido ao longo dos anos, mas a força do adversário era assustadora. Alex Grippe, até então silencioso, sacou uma arma e começou a disparar, mas seus tiros erravam o alvo, ricocheteando pelas paredes e fazendo Jorge recuar em pânico.

— Concentre-se, garoto! — Alex gritou, mas suas palavras se perderam no caos que se seguiu. Jorge, tentando contribuir, invocou correntes mágicas para imobilizar o inimigo, mas o homem as evitou com uma agilidade surpreendente, destruindo as correntes com um simples movimento de seus braços poderosos.

Foi nesse momento que Aline retomou a consciência. Como se um choque elétrico tivesse percorrido seu corpo, seus olhos se acenderam com uma nova determinação. Ela rapidamente captou a cena ao seu redor, e sem hesitar, estendeu a mão.

Makrós! — Ela gritou, e uma esfera de energia se formou ao lado de sua mão espalmada, disparando um raio que atingiu o mutante em cheio, lançando-o para fora da casa, sobre a areia cinzenta da praia. Ele rugiu de dor, mas seus ferimentos começaram a cicatrizar quase imediatamente.

Rebecca, observando a cena, percebeu a natureza regenerativa da criatura. — Ele está se curando... Junior, você precisa parar a respiração dele!

Junior assentiu, já planejando seus próximos movimentos. A batalha continuava feroz, com Aline e o mutante trocando golpes poderosos. Ela gritou "Makrós!" novamente, e o raio de energia atingiu o homem mais uma vez, fazendo-o cambalear de dor, mas ainda assim, ele se levantou, regenerando-se rapidamente.

Rebecca arrastou Junior para um canto mais seguro, longe da linha de fogo. — Se você conseguir cortar a respiração dele, a regeneração vai parar. Ele não vai se curar de algo tão definitivo.

Junior olhou ao redor rapidamente e encontrou uma estaca improvisada, uma lasca do estrado da cama. Movendo-se com a furtividade e precisão que havia aprendido nas lutas, ele se aproximou do mutante que estava focado em Aline. Alex, finalmente acertando seus tiros, forneceu a distração necessária.

Com um movimento rápido, Junior se lançou para trás do mutante e, com toda a força que podia reunir, cravou a estaca no pescoço da criatura. O homem se debateu, mas a força de Junior, aliada à precisão do golpe, fez o mutante cair ao chão, a regeneração parando conforme o sangue jorrava de sua ferida fatal.

Aline, ainda em choque com o que havia acontecido no Oníron, e fez uma cara de horror ao ver o sangue esguichar da jugular perfurada do monstro. Ela ainda não estava habituada ao ver alguém morrer mesmo que já tenha visto isso ocorrer antes.

(Continua...)

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte 5

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro

Aline hesitou por um instante antes de bater na porta entreaberta da pequena casa de madeira. O som de seus nós dos dedos ecoou levemente, misturando-se ao farfalhar do vento que soprava do mar. Junior, sempre atento, aguardava um pouco atrás, os olhos fixos na faixa de areia cinza que se revelava a cada onda, onde a neve recém-caída se desfazia ao toque da água salgada.

A porta se abriu com um rangido, revelando uma criança de olhos azuis brilhantes, bochechas rosadas e um sorriso tímido. Aline se abaixou para ficar na altura do pequeno e deu-lhe um afetuoso cafuné, percebendo que ele tinha uma estranha semelhança com Caim. No entanto, ela não comentou, preferindo manter a atmosfera leve.

— Qual seu nomes? - Perguntou Aline.

— Jorge. — Respondeu o garotinho.

— Olá, Jorge, — disse ela suavemente, e o garoto sorriu, convidando-a para entrar com um gesto.

Dentro da casa, o calor era reconfortante, mas a cena que a aguardava era incomum. Uma mulher idosa, de pele amendoada e olhos cegos, estava sentada em uma cadeira de balanço ao lado de um homem loiro e de cabelos curtos que caíam sobre a testa. Rebecca, já familiar, estava ali também, de pé ao lado da janela, observando o mar com uma expressão de preocupação.

— As coisas estão complicadas, — começou Rebecca, virando-se para Aline. — Apesar de Benjamin ser visto como um herói por muitos, há uma parcela crescente da população que quer nos transformar em monstros.

Junior, ainda do lado de fora, observava o interior da casa com curiosidade e olhou para o homem loiro e perguntou:

— Qual o seu nome?

— Alex Grippe, — respondeu o homem com um aceno de cabeça.

— Eu sou o Junior, — disse ele, e os dois ficaram se entreolhando em silêncio por alguns segundos antes de Junior comentar de forma casual:

— Capaz de chover, né?

— É, — concordou Alex, sem muito entusiasmo.

Aline voltou sua atenção para a mulher idosa, que não se apresentou, a voz suave e cheia de sabedoria.

— Já ouviu falar do Arkaneus de Toronto? — perguntou a anciã, os olhos sem vida parecendo enxergar mais do que Aline poderia imaginar.

— Sim, — respondeu Aline, surpresa pela menção. Ela sabia que Helena Costa, seu eterno desafeto, era uma espécie de embaixadora da organização em sua cidade.

A anciã, Rebecca e Aline se moveram em direção a um quarto nos fundos da casa. Aline notou com admiração como a anciã, apesar de cega, andava com segurança e familiaridade pela casa, como se enxergasse com outros sentidos. Quando chegaram ao quarto, a anciã afastou um guarda-roupas, revelando uma maquete intrincada de um edifício.

— Sente algo vindo daqui? — perguntou a anciã, sua voz agora carregada de uma gravidade que Aline não pôde ignorar.

Aline se aproximou, tocando levemente a maquete. A energia era fraca, quase imperceptível, mas ela sentiu. Seu coração acelerou ao reconhecer a sensação, uma vibração mágica sutil que ela já havia experimentado antes, quando Guilhermina, a misteriosa bruxa de Serra do Lago, a havia envolvido em um de seus feitiços.

— Sim, há algo aqui... — Aline começou, mas antes que pudesse terminar a frase, uma força invisível a puxou. O quarto ao seu redor se desfez como fumaça, e ela se viu em um novo lugar.

Aline estava agora em um vasto salão, suas paredes cobertas por símbolos herméticos antigos, cada um emanando uma aura de poder. O ambiente era suntuoso e luxuoso, mas o que mais a impressionou foi a neve que caía suavemente dentro do próprio prédio, cobrindo o chão e os móveis, como se o inverno tivesse invadido o interior do Arkaneus. Ela ficou ali, perplexa, enquanto a realidade à sua volta se moldava em algo etéreo, quase onírico.

Uma voz ecoou pelo salão, cortando o silêncio gélido.

— Bem-vinda ao Arkaneus de Toronto. Ou, pelo menos, à imagem residual dele no Oníron.

Um homem de cabelos pretos e feições quase escocesas olhava para ela.
— Surpreende-me que alguém tenha sentido a minha presença, sobretudo estando eu tão distante no espaço e também nos Reinos do Ser.

Aline empalideceu, pois o homem transmitia uma aura de poder desconcertante.

— Nem a bruxa cega me sentiu... Espere... Não consigo ler sua mente. - O Homem se espantou.

— Quem é você? - Perguntou Aline.

— Sou Isaac... Novo líder do Arkaneus.

Aline não sabia quem mandava no Arkaneus, mas ao se apresentar como novo líder, aquilo soou estranho.

— Você é linda. E deve ser uma bruxa poderosa. Acho que será apropriado o convite então. — O homem coçou o queijo pensativo.

— Que convite? - Aline perguntou ainda em estado de certo torpor.

— Junte-se a mim, seja minha esposa. E ajude a mim e ao meu mestre a governar o novo mundo.

Aline achou aquilo mais estranho ainda. O Arkaneus, que ela soubesse, tinha um líder que não obedecia a ninguém. E este que se apresentava como novo líder do Arkaneus parecia ser subordinado a um mestre.

—  Como assim, novo mundo? — Aline indagou.

— Um mundo onde nós, agraciados com o dom da magia, não precisaremos nos esconder como ratos daqueles que são inferiores a nós. - Isaac sorriu como quem esperasse uma retribuição.

— Então você quer se revelar para o mundo?

— Nós já fomos revelados por aquele rapaz tolo. E agora começarão a nos perseguir, provavelmente. O velho decrépito de Washington já está se ajuntando com nossos perseguidores a essa altura. - Disse o homem.

— E o que faremos com eles? - Aline indagou curiosa.

— Infelizmente não se faz um novo mundo sem algumas mortes... Alguns bilhões, é claro.

Aline ficou horrorizada. "Como?" ela perguntou.

— Um pequeno genocídio dos não-bruxos, é claro. Não mataremos a todos - por óbvio! - Alguns poderão ser ótimos bichinhos de estimação.  - Isaac gargalhou.

Um silêncio se interpôs entre eles. Isaac então se deu conta de que algo estava errado com a moça em sua frente.

— O que foi? Achei que fosse gostar do plano.

Aline após se recuperar do horror inicial, arregaçou as mangas como se fosse encher alguém de "bolacha", e pôs-se a falar:

— Primeiro, que eu sou ótima de planos. E isso que você me contou é na melhor das hipóteses uma carta de intenções. Não chega nem mesmo a ser um plano. Segundo, que há beleza na humanidade tal como ela é. A magia macula o mundo, tira a graça e a beleza dele. Não há magia maior que uma árvore que cresce sozinha e está parada no mesmo lugar a várias décadas e séculos. Assim são os humanos. Terceiro, se você acha que eu vou aceitar um sujeitinho como você fazer algo assim, saiba: O homem que eu amo, e pelo qual estou disposta a matar e morrer é um não-bruxo, e eu tenho certeza que ele vai lhe partir essa caixa de sapatos que você chama de cara.

Isaac fez feições de nojo.

— Te deitas com um não-bruxo. És uma imunda!

— Não terminei! - Aline gritou — Quarto! Eu vou criar um plano contra você, e não se esqueça disso: Você não pode ler a minha mente!

Isaac fechou o cenho embebido em ódio, e despachou Aline de volta ao mundo real.

(Continua...)


[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte 4

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro


A manhã do dia 14 de dezembro chegou envolta em um frio cortante, o tipo de frio que penetrava até os ossos, independentemente da quantidade de camadas de roupa que se usasse. Aline acordou com o quarto mergulhado em uma penumbra gelada, a claraboia acima de sua cama bloqueada por uma espessa camada de neve, sufocando qualquer luz que tentasse entrar. Ela se encolheu por um instante debaixo das cobertas, tentando prolongar o calor e a tranquilidade daquele pequeno mundo acolhedor, mas o cheiro de café fresco e pão de queijo a puxou para a realidade.

Descendo as escadas, o contraste entre o mundo lá fora e o aconchego do interior da casa era evidente. Aline sentiu-se transportada de volta ao Brasil por um breve momento, o aroma inconfundível do pão de queijo a envolvendo em uma saudade doce-amarga. Havia algo de reconfortante na simplicidade daquele gesto de Junior, um gesto que dizia mais do que mil palavras.

Ela lamentou silenciosamente por ele, por não terem tido a chance de comemorar a vitória no TUFA como deveriam. A vida, como sempre, continuava a empurrá-los para a frente, sem dar espaço para respirar ou refletir. Mas naquele momento, Aline decidiu se permitir uma pausa, um momento para brincar, para se conectar com Junior da maneira mais pura possível.

Com seu pijama rosa com bolinhas, ela se aproximou sorrateiramente da sala de estar, onde Junior estava ocupado entre a cozinha e a televisão. Em uma tentativa de surpreendê-lo, Aline ficou na ponta dos pés e cobriu os olhos dele com as mãos, seus dedos pequenos e quentes contrastando com a rigidez das manhãs de inverno.

Junior sorriu antes mesmo de se virar, sentindo o toque suave e o aroma familiar da loção de Aline. Em um movimento rápido e hábil, ele se virou, pegando-a de surpresa, levantando-a do chão em um gesto que falava de intimidade e brincadeira. Aline soltou uma risada surpresa, mas foi interrompida quando Junior a puxou para um beijo, seus lábios se encontrando em um momento de pura conexão.

— Eu amo quando você tenta me surpreender, mesmo sabendo que não vai conseguir — disse Junior, com um sorriso travesso nos lábios.

Aline riu, um brilho malicioso nos olhos.

— E eu amo tentar, só para ter a desculpa de ser pega no colo.

Eles se sentaram à mesa, compartilhando o café da manhã enquanto conversavam, as palavras fluindo com a facilidade de quem se conhece profundamente. Mas então, a TV que antes apenas murmurava em segundo plano, cortou o ar com um tom urgente. O noticiário começou a relatar que o presidente havia sido chamado às pressas para uma base militar em Washington, D.C., localizada em um local obscuro que ninguém conhecia, na Rhode Island Avenue, em Eckington.

A voz do jornalista era tensa, cheia de uma seriedade que não combinava com o cenário doméstico que Aline e Junior haviam criado naquela manhã. A câmera do noticiário focou em um púlpito da Casa Branca, mas o que realmente chamou a atenção deles foi o logo que apareceu no painel atrás do apresentador: um globo terrestre com o acrônimo XBI e a expressão latina "Defendat omnes homines et orbi."

— O DIX — murmurou Junior, a voz carregada de tensão.

Aline ficou em silêncio, uma sensação de inquietação crescendo em seu peito. Ela conhecia aquele símbolo, e sabia que aquilo não pressagiava nada de bom.

A câmera mudou de foco, mostrando um homem de terno, careca, com feições latinas e pequenos folículos capilares ruivos, que sugeriam um cabelo outrora vibrante. Ele se posicionou orgulhoso, com queixo erguido, ao lado do púlpito, à espera do presidente, enquanto flashes de máquinas fotográficas iluminavam a cena com uma intensidade quase frenética.

Algo estava prestes a acontecer, algo grande, mas antes que pudessem descobrir o que era, o telefone de Aline vibrou em cima da mesa, cortando a tensão que começava a se acumular no ar. Ela olhou para o visor e viu o nome de Rebecca piscando. Aline atendeu, e a voz do outro lado estava carregada de urgência.

— Aline, preciso de ajuda. É urgente. Estou em Coney Island, Brooklyn — disse Rebecca, a voz trêmula, quase engasgada.

Aline sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto ouvia a voz de Rebecca pelo telefone, carregada de uma urgência quase palpável. Algo sobre a maneira como ela falava indicava que as coisas estavam rapidamente fugindo do controle. Rebecca mencionou a necessidade de conhecer algumas pessoas, alertando que a opinião pública sobre os acontecimentos na Baía de Jersey estava se tornando cada vez mais tóxica, inclinando-se perigosamente para a intolerância.

— Estamos a caminho — respondeu Aline, a voz firme, mas o coração acelerado. Ela olhou para Junior, que já estava de pé, com uma expressão séria. Não houve necessidade de mais palavras; eles estavam sincronizados, movidos por uma compreensão mútua de que o que quer que estivesse esperando por eles em NYC Beach não podia ser ignorado.

Junior se arrumou rapidamente, de forma quase automática, enquanto Aline vestia um casaco pesado, preparando-se para enfrentar o frio que os aguardava lá fora. O noticiário na TV ainda mostrava o local em Eckington, o presidente prestes a iniciar seu pronunciamento. Mas não havia tempo para esperar. As palavras do líder da nação teriam que ficar para depois.

Aline e Junior deixaram a casa em Southgate Boulevard com a urgência de quem sabe que o tempo está contra eles. O frio lá fora parecia mais penetrante, a neve rangendo sob suas botas enquanto atravessavam o caminho até o carro. O silêncio entre eles era pesado, carregado de expectativas não ditas, mas Aline sentia a presença de Junior como um ancoradouro, uma força que a mantinha focada.

A viagem para Conney Island foi tensa, o trânsito da cidade grande uma vez mais caótico. Aline observava as ruas cobertas de neve pela janela, o horizonte da cidade um borrão branco e cinza. 

- Não entendo o que leva alguém a morar em Conney Island no inverno. - Protesta Junior.

- As pessoas não trocam de casa só por causa da estação do ano, Junior. - Retruca Aline.

- Sim, mas é deprimente. Se pelo menos as pessoas viajassem para a Flórida no inverno. - Diz Junior enquanto olha um taxi amarelo buzinando na sua traseira.

- Querido, aqui é Nova Iorque. É bem mais frio que Serra do Lago, que já não é um modelo de tropicalidade. Praia aqui é sempre deprimente. - Aline o consola.

Mesmo àquela hora da manhã, NYC Beach estava deserta, uma calmaria inquietante pairando sobre a paisagem. A neve acumulada na areia criava um contraste quase surreal, a vastidão do oceano se estendendo em tons de aço sob o céu nublado.

Quando finalmente chegaram ao local, avistaram a casa de madeira à beira-mar, uma estrutura desgastada pelo tempo, que parecia ter sido usada por pescadores em algum momento distante. A construção, pequena e isolada, parecia estar fora de lugar naquele cenário, como um vestígio esquecido de outra era. Aline sentiu um aperto no peito, um pressentimento que era difícil ignorar.

Eles saíram do carro, o vento gelado mordendo seus rostos enquanto se aproximavam da casa. A neve rangia sob seus pés, abafando qualquer outro som, criando uma sensação de isolamento ainda maior. Aline parou por um momento, olhando para Junior, que caminhava ao seu lado, os olhos fixos na casa à frente.

(Continua...)

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte 3

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro

Alice olhou para Aline com uma expressão que misturava tanto fascínio quanto apreensão.

— Sim, é planaltina — confirmou Alice, voltando seus olhos para a pequena flauta com a pedra incrustada. — Um mineral raro, encontrado quase que exclusivamente no Brasil e, em menores quantidades, em algumas regiões da África subsaariana. Mas, curiosamente, não tem nenhuma propriedade útil para a indústria. Não é valiosa, é de difícil extração e manuseio. Sua casca cinza esconde um interior azul claro, que é belo, mas... inútil. Um adorno estranho para uma flauta européia, não acha?

Aline estudou a flauta, a mente correndo em círculos enquanto tentava encontrar sentido naquilo. A planaltina, com todo o seu mistério, parecia ser nada que justificasse a atenção de sua mãe, que apesar de entender algo de paleontologia, era muito melhor como arqueóloga.

Sentindo o peso da situação, Aline pegou o celular novamente e tirou uma foto da flauta, enviando-a diretamente para sua mãe. A resposta chegou quase instantaneamente, mas em vez de uma análise ou uma explicação, recebeu apenas um emoji de polegar para cima. Um gesto mínimo, quase indiferente, que deixava mais perguntas do que respostas.

Alice percebeu a hesitação de Aline e se aproximou, o som suave das rodas de sua cadeira de rodas reverberando pelo ambiente silencioso.

— Agradeço muito por intermediar isso, Aline — disse Alice, sua voz expressando uma sincera gratidão. — Imagino que sua mãe entrará em contato assim que possível. E, por favor, entregue a ela o meu contato.

Aline acenou com a cabeça e anotou o número de telefone de Alice, passando-o imediatamente para sua mãe, ainda esperando alguma reação mais substancial. Mas não houve nada além daquele simples emoji. Algo estava definitivamente fora do normal.

Enquanto Alice se preparava para se despedir, Junior, que havia observado tudo em silêncio, franziu o cenho, a curiosidade visível em seu olhar.

— Como você sabia que Aline estava na cidade, se não tinha o contato da mãe dela? — perguntou ele, com uma leve desconfiança na voz.

Alice sorriu, um sorriso enigmático que não chegou a alcançar seus olhos.

— Temos uma conhecida em comum — respondeu ela, o tom leve, mas carregado de uma implicação subjacente que Aline não conseguiu ignorar.

Antes que pudessem questioná-la mais, um guarda uniformizado entrou na sala, pronto para escoltá-los para fora do museu. Aline e Junior trocaram um olhar, ambos cientes de que, por mais estranho que fosse o encontro, não havia muito que pudessem fazer ali, naquele momento.

Enquanto saíam do museu, Aline sentiu o peso das dúvidas acumulando-se em sua mente. Havia algo profundamente errado naquela situação — nas conexões que surgiam e nas respostas que não vinham. E, mais do que nunca, ela sentiu que estava sendo puxada para dentro de algo muito maior e mais perigoso do que poderia imaginar.

Os corredores do museu, agora vazios, pareciam estender-se indefinidamente, com as sombras lançadas pelas luzes artificiais se alongando como mãos invisíveis, tentando agarrá-los. Junior caminhava ao seu lado, em silêncio, mas ela sabia que ele também estava processando tudo o que havia acontecido. Quando finalmente chegaram à saída, a noite lá fora os envolveu como um manto pesado, o ar frio e úmido lembrando-lhes que estavam de volta à realidade, mas com um novo enigma para resolver.

Eles entraram no carro e, enquanto Junior ligava o motor, Aline olhou uma última vez para o museu, as luzes internas ainda acesas, mas já distantes.

— Isso foi estranho, até para os nossos padrões — murmurou Junior, tentando aliviar a tensão no ar.

Aline não respondeu. Apenas assentiu, ainda perdida em seus pensamentos, enquanto se afastavam do museu, deixando para trás mais uma peça solta em um quebra-cabeça que parecia crescer a cada passo.

O carro deslizou suavemente pela ponte Queensboro, suas luzes refletindo na camada de neve que cobria a estrutura, um reflexo gelado do caos que era o trânsito da Grande Maçã naquela noite. O ritmo lento dos veículos contrastava com o turbilhão de pensamentos que ainda ressoavam na mente de Junior. Ele mantinha as mãos firmes no volante, mas seus olhos, de tempos em tempos, desviavam-se para Aline, que adormecera no banco do passageiro.

A luz fraca dos postes, filtrada pela neve, iluminava suavemente o rosto de Aline. No sono, ela parecia mais jovem, quase frágil, como se toda a carga de mistérios e segredos que carregava durante o dia tivesse sido momentaneamente aliviada. Uma aura de tranquilidade envolvia seu semblante, e Junior não pôde evitar um sorriso. Ali, no silêncio do carro, ela era a mesma garota por quem ele se apaixonara — forte e determinada, mas com uma inocência que o surpreendia sempre.

Ele reduziu a velocidade, acompanhando o fluxo de veículos enquanto uma neblina sutil começava a subir do rio abaixo da ponte. Sentindo a necessidade de suavizar o ambiente, ele procurou no rádio uma música que fosse suave o suficiente para não perturbá-la. As notas melancólicas de Billie Eilish preencheram o espaço, uma trilha sonora inesperada, mas adequada para aquele momento.

Finalmente, após o que pareceram horas de um trajeto que normalmente duraria 45 minutos, eles chegaram à casa em Southgate Boulevard. O carro parou suavemente diante do jardim, agora completamente coberto por uma fina camada de neve que cintilava à luz do luar.

Junior desligou o motor e, por um momento, apenas observou Aline, ainda dormindo, o peito subindo e descendo em um ritmo constante e pacífico. Ele se inclinou levemente e, com uma delicadeza que poucos conheciam, tocou seu ombro.

— Aline, chegamos — sussurrou, a voz suave, quase um murmúrio.

Ela despertou lentamente, os olhos piscando para ajustar-se à escuridão ao redor. Por um breve instante, ela pareceu desorientada, mas então, ao ver o rosto de Junior, sorriu com uma ternura que aqueceu o coração dele.

Sem dizer uma palavra, ambos saíram do carro, os passos afundando na neve fresca enquanto cruzavam o jardim. O silêncio entre eles era confortável, quase sagrado, como se cada um estivesse perdido em seus próprios pensamentos, mas ainda profundamente conectados.

Quando finalmente entraram na casa de madeira e drywall, a claraboia no telhado do segundo andar deixava entrar a luz fria da lua, que se espalhava pelo chão de maneira suave e quase etérea. O calor interior contrastava com o frio lá fora, envolvendo-os em um abraço reconfortante enquanto trancavam a porta atrás de si.

E assim, sem mais palavras, o dia deles chegou ao fim. Aline subiu as escadas lentamente, enquanto Junior apagava as luzes e certificava-se de que tudo estava em ordem. A normalidade daquela noite parecia um bálsamo para a mente deles, uma pausa breve antes que os eventos estranhos e inexplicáveis voltassem a invadir suas vidas.

(Continua...)

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte 2

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro

Dante Osório ergueu os olhos quando a porta se abriu, esperando a entrada de uma enfermeira ou talvez de um médico, alguém com um semblante familiar e profissional. Em vez disso, ele se deparou com uma jovem loira de expressão resoluta e um rapaz de tez amorenada que irradiava uma estranha tranquilidade. Eles não pertenciam ao mundo estéril e controlado do hospital, e a surpresa rapidamente se transformou em desconfiança.

— Quem são vocês? — Dante exigiu, o tom autoritário denunciando o peso do seu status e fortuna. — O que querem de mim?

Aline hesitou por um momento, mas sua determinação logo emergiu. Ela abriu a boca para explicar, mas Dante não a deixou continuar.

— Vou chamar a segurança. Tenho dinheiro suficiente para acabar com a vida de vocês — ameaçou, sua voz cortante como uma lâmina.

Junior raspou a garganta, a tensão crescendo no ar. Aline, sentindo a urgência do momento, adiantou-se um passo, sua voz firme ao enfrentar o bilionário.

— Eu vi o que aconteceu — disse ela, fazendo Dante parar de imediato. — Eu vim do Brasil, porque um velho Pajé me pediu que viesse aos Estados Unidos para ajudar um rapaz chamado Benjamin. Eu nunca soube quem ele era... até hoje.

A expressão de Dante mudou, o olhar endurecido suavizou-se em uma mistura de curiosidade e incredulidade. Junior interveio, a voz grave e segura.

— Ela é uma feiticeira — disse ele, traduzindo para os termos que Dante entenderia. — Uma bruxa, como vocês dizem por aqui.

Pela primeira vez, Dante se silenciou, ouvindo.

Aline continuou, com uma honestidade quase desarmante.

— Eu não sei exatamente no que posso ser útil, mas acredito que conhecer Benjamin pode ajudar a esclarecer tudo. Se precisarem de qualquer coisa, podem entrar em contato conosco. Pelo que parece, as coisas estão ficando feias.

Antes que Dante pudesse reagir, a porta do quarto se abriu novamente. Um rapaz alto, de sotaque canadense, entrou, seguido por uma loira de franja partida e óculos grandes. Ambos pararam abruptamente ao ver Aline e Junior, os olhos arregalados em surpresa.

— Quem são vocês? — O rapaz começou, mas foi interrompido por Dante.

— São amigos — disse Dante, a voz menos firme, mas carregada de algo que parecia respeito relutante.

Aline trocou um olhar com a jovem loira, um reconhecimento silencioso passando entre elas.

— Rebecca — disse a loira, estendendo a mão para Aline. — E este é Caim.

Aline apertou a mão dela, sentindo uma conexão quase imediata. Junior também cumprimentou Caim, e por um momento, a tensão no quarto parecia ter se dissipado.

— Aqui está meu número — disse Aline, trocando informações de contato com Rebecca. — Se precisarem de ajuda, liguem. As coisas por aqui podem estar além do nosso controle.

Junior, num tom descontraído, mas com uma seriedade implícita, acrescentou:

— Se a situação piorar, conhecemos uma bruxa muito poderosa na nossa cidade natal. Ela tem... dragões.

Dante soltou uma risada sarcástica, a incredulidade pintada em seu rosto.

— Dragões? Sério?

Rebecca e Caim, no entanto, não pareceram tão céticos. Olhavam para Junior e Aline com um misto de fascínio e apreensão, como se estivessem reavaliando o que sabiam sobre o mundo.

O telefone de Aline vibrou, o som cortando o ar com uma urgência que ela não podia ignorar. Atendeu rapidamente, afastando-se um pouco do grupo, e murmurou algumas palavras ininteligíveis. Quando desligou, seu rosto estava pálido, mas determinado.

— Precisamos ir — disse ela, olhando para Junior. — Agora.

Junior assentiu, sem fazer perguntas. O tempo para respostas viria depois.

Eles se despediram brevemente, a pressa nos gestos e na voz. Aline lançou um último olhar para Rebecca e Caim, um olhar que dizia mais do que palavras poderiam expressar. Dante os observou sair, sua mente agora cheia de perguntas e dúvidas que não existiam antes.

[ARK] DIÁRIO

 Diário de Arthur Reese Koller 2 de outubro A bomba caiu no café da manhã: estamos nos mudando pra uma tal de ilha Drauka. Litoral, mar, bri...