Um amor proibido entre um bruxo e um não bruxo, um adolescente atlético e ágil com um demônio guardado dentro de si e poderes mágicos por se desenvolverem, uma ruiva sensual com segredos aristocráticos e um grupo de amigos ímpar. A história de "O despertar de todos os males" tem tudo para encantar adolescentes que se permitam surpreender e descobrir que magia pode se enquadrar muito bem no nosso mundo contemporâneo.
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Os personagens como eu mais ou menos imagino eles. Créditos: Microsoft Designer |
Se você gosta da saga "Harry Potter", uma boa pedida pra se aventurar na leitura e no RPG é essa história. A história segue a vida de Benjamin, um jovem latino que mora numa versão de Nova Iorque que parece marcada mais do que nunca pelo ódio e intolerância contra os "velhos rejeitados dos americanos", negros, latinos, liberais/progressistas. Benjamin possui uma prima, Marina - uma das personagens mais doces da obra - que é uma criança bem pequena que ainda troca as letras quando fala. Alencar espertamente desenvolve bem essa personagem e a relação doce entre ela e seu protagonista só para machucar seu coração quando a garotinha é subitamente raptada.
A partir do rapto que a história realmente começa a andar. Antes disso, Alencar cuidadosamente trabalha o cotidiano dos jovens que compõem a história: Dante Osório, um ricaço amigo de Benjamin que lembra um pouco o Harry Osborn da trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi. Além deste, Rebecca também é uma personagem interessante, ela é inteligente, mas não seria apropriado reduzi-la a uma nerd (ainda que tenha óculos e problemas de visão, e apreciar muito os livros), mas o segundo personagem mais brilhante é Clover. Uma ruiva misteriosa e sensual - aliás, Alencar sabe escrever sobre personagens sensuais - mas que é muito mais que rosto e um corpinho bonito. Sarcástica, inteligente, observadora, são três excelentes adjetivos para essa personagem. Vale a pena ainda mencionar Caim, um dos mais enigmáticos de todos, e que servirá a ele como forma de explicar o mundo mágico do subterrâneo de Nova Iorque. Eles se divertem em conversas sobre trivialidades e jogos de RPG de mesa. Isso é também uma ótima forma de estabelecer bem a personalidade de cada um, até os maneirismos, como o irritante otimismo ingênuo de Benjamin e sua inculcação com astrologia. Toda vez que o Benjamin diz que "poderia ser pior" eu sinto a angústia interior dos personagens que o circundam.
A narrativa começa a partir de um grupo de jovens idiotas - um clichê que sempre funciona em contos de terror - fuçando onde não deviam. Eu imagino a reunião do grupo antes: - Vamos invadir um mausoléu de um ricaço falecido com fama de mexer com coisas esquisitas? Vamos! Que ótima ideia!
Mas é um clichê que funciona bem, o destino deles é o mesmo que aguarda adolescentes idiotas análogos dos filmes do Jason de Sexta-feira 13.
Após toda essa contextualização a vida de nosso protagonista, Benjamin, ou simplesmente: Benzinho, é abalada com o misterioso rapto de sua prima. Na busca por ela na escola, Benjamin toma contato com a magia, um necromante a teria raptado e Benjamin - que é por acaso, um excelente lutador - distribui socos e pontapés para se salvar, e conta ainda com a ajuda de um policial: Alex Grippe. Por fim, numa das buscas por Marina, o grupo receberá o reforço ainda do jovem e roliço Jorge - irmão de Caim - que se engajará numa luta feroz com bruxos poderosos num metrô abandonado.
No entanto, a trama realmente ganha contornos dramáticos quando a sensual Clover, interesse romântico e uma das personagens mais interessantes da obra é simplesmente sequestrada por Kent Paul. Paul é um terrorista extremamente letal, eficiente e psicopático. Tem um longo histórico nesse mundo matando gente importante e influente. Não fica claro no texto de Alencar o quão longe Paul foi em sua violência contra Clover, mas ao final, o estado em que ela é encontrada sugere (talvez?) que ela possa ter sido estuprada por Paul (fica a dúvida no ar); pois as agressões desferidas por Paul contra a ruiva sempre tem pesadas conotações sexuais, além de uma carga gigantesca de humilhação.
Após Benjamin, Alex e Jorge libertarem Rebecca num parque diversões abandonado, e derrotarem Augustos (o necromante), Benjamin vai à batalha final no metrô para salvar a sua amada. Ele logra êxito, é claro! Mas a batalha final é emocionante e vale a pena ser lida pelo qual eu não entrarei em demasiados detalhes. A cena final, expondo a magia para o mundo e uma cena heróica ao melhor estilo Homem-Aranha do Tobey Maguire parando um trem, é em si mesmo um espetáculo a parte.
Uma qualidade do texto é que ele é dinâmico e não perde muito tempo em detalhes desnecessários, uma mal causado pela tolkienização de tudo (mal que inclusive me afeta, eu confesso). Recomendo fortemente a obra.
Acompanhe no EPR mais artigos sobre a obra e adaptações para RPG!
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