sexta-feira, 16 de agosto de 2024

[CONTO] A Ascensão de todos os males - Capítulo 1 - Parte 1

Criado por Celso Alencar, contribuições de Rodrigo Gabriel e Arthur R. Ribeiro


Aline segurou o rosto de Junior entre as mãos, seus dedos traçando suavemente as linhas da mandíbula dele. Havia uma suavidade naqueles momentos que quase desmentia a tensão que os aguardava mais tarde. Ela depositou um beijo leve em sua bochecha, seu hálito quente contrastando com o ar frio da manhã.

— Eu não poderei ir com você agora, Junior — ela disse, sua voz baixa e carregada de uma mistura de orgulho e pesar. — Mas prometo que estarei lá. Nem que seja no final da luta, vou chegar a tempo de te ver vencer.

Junior apenas assentiu, seus olhos refletindo uma compreensão profunda. Ele a puxou para um abraço, sentindo o calor dela se fundir ao dele, um conforto silencioso antes da tempestade que estava por vir.


A arena do The Ultimate Fighter America estava cheia de uma energia quase palpável. As luzes brilhavam intensamente sobre o octógono, onde Junior se preparava para sua primeira luta no TUFA. Seu adversário, conhecido apenas como Montanha, estava do outro lado, um monólito de força e determinação. As palavras do juiz cortaram o ar, as instruções clássicas do UFC soando como um ritual que precedia o caos.

— Sem dedo no olho, sem chute nas partes erógenas — a voz do juiz ecoava, embora Junior já estivesse focado demais para ouvir com clareza.

Montanha deu um passo à frente, os olhos fixos em Junior, como se estivesse medindo o desafio que tinha pela frente. Junior respirou fundo, lembrando-se das palavras de Aline, o calor de seu toque, o peso de sua promessa. Isso lhe deu a força que ele precisava.


Enquanto isso, Aline estava mergulhada em seus estudos, os olhos correndo rapidamente pelas páginas de um livro de economia, mas a mente vagando de volta para o ginásio onde Junior lutava. Ela sabia que suas prioridades eram claras, mas o sentimento de estar dividida entre sua responsabilidade e o desejo de estar ao lado de Junior a consumia.

Quando finalmente fechou o livro, seus olhos se fixaram no relógio. O tempo estava se esgotando, mas ela ainda poderia fazer isso. Ela pegou seu casaco e saiu correndo, o vento frio da noite açoitando seu rosto enquanto ela se apressava para o ginásio.

Quando chegou, a luta estava no final. Aline adentrou a arena no exato momento em que o público explodia em aplausos. Ela forçou seu caminho até uma posição onde pudesse ver o octógono. Lá, no centro, Junior estava de pé, suado e exausto, mas triunfante. Montanha estava caído, o rosto ensanguentado e irreconhecível, vítima de um knockout técnico. Aline sentiu uma pontada de náusea ao ver a gravidade dos ferimentos do adversário, mas também um orgulho crescente por Junior. Ele havia vencido.

Antes que pudesse processar o momento, o telão da arena piscou, interrompendo as celebrações. A imagem de uma ponte de gelo, impossível e surreal, sobre a baía de Jersey dominou a tela. Helicópteros de resgate se aproximavam de um rapaz caído nos trilhos, ferido. O GC do noticiário corria na parte inferior da tela, trazendo palavras que imediatamente capturaram a atenção de Aline:

"Kent Paul, o terrorista texano que assassinou o último papa, foi capturado graças à intervenção de um adolescente latino."

Aline se fixou na imagem do jovem, seu coração disparando enquanto lembranças surgiam de forma quase involuntária. O Pajé... O pedido dele ressoava em sua mente: "Ajude o garoto chamado Benjamin."

O noticiário continuava, mas agora, um deputado republicano furioso ocupava a tela, protestando:

— Exaltar esse rapaz por sua herança latina e por usar magia é um insulto aos valores morais que fundaram esta nação! A América foi construída sobre princípios cristãos protestantes, e isso vai contra tudo o que acreditamos!

A câmera voltou para a ponte de gelo, e um novo nome surgiu, mencionado por um comentarista ao lado do octógono. O juiz da luta de Junior olhou para a tela com uma expressão perturbada.

— Aquele garoto... Benjamin. Ele era meu aluno — murmurou o juiz, mais para si do que para qualquer outro. — Promissor, mas nunca soube nada de magia... Dante Osório, um playboy milionário, era amigo dele. Agora, parece que está ferido no Benedict's General, em Jersey.

Aline ficou ali, ao lado de Junior, ambos absorvendo a estranheza da situação. O momento de vitória de Junior fora eclipsado por algo muito maior, algo que os chamava para um caminho que ambos não poderiam ignorar.

Saindo da arena, eles não precisaram de palavras. Aline e Junior trocavam olhares carregados de determinação, sabendo que seus destinos estavam, mais uma vez, entrelaçados com algo muito maior que eles próprios.

— Temos que ir atrás de Dante Osório — disse Aline finalmente, sua voz firme. — Precisamos saber mais sobre Benjamin e o que está acontecendo.

Junior assentiu, e juntos, começaram a caminhar em direção ao desconhecido, o peso do futuro nas costas e a esperança em seus corações, enquanto a neve começava a cair, cobrindo Nova Iorque em um manto silencioso de promessas ainda não cumpridas.

O Cruze 2018 de Junior deslizava pela estrada, cortando a escuridão da noite enquanto as luzes da cidade piscavam ao longe, embaçadas pela névoa que se espalhava pelo Hudson. As ruas de Jersey estavam em completo caos, uma cena que mais parecia saída de um pesadelo do que da realidade. Sirenes ecoavam, carros parados com suas buzinas soando em desespero, enquanto o tumulto próximo à ponte George Washington sugeria que algo mais sinistro havia acontecido.

— Isso não faz sentido — murmurou Aline, os olhos fixos na estrada à frente, mas a mente distante. — Como tudo isso pode estar acontecendo tão perto de nós e tão longe ao mesmo tempo?

Junior manteve as mãos firmes no volante, mas sua mente estava tão agitada quanto a de Aline. As notícias sobre o terrorista capturado, o misterioso adolescente latino, e agora a presença de Dante Osório no Benedict’s General Hospital, tudo parecia parte de um quebra-cabeça do qual eles ainda não conseguiam ver a figura completa.

— Algo me diz que não vai ser fácil falar com ele — respondeu Junior, o tom preocupado, mas determinado.

O tempo parecia se arrastar enquanto passavam pelo trânsito pesado, mas finalmente, depois de quase uma hora de luta contra as ruas congestionadas e a confusão que dominava a cidade, eles chegaram ao Benedict’s General. O hospital estava cercado por repórteres e fotógrafos, todos em uma espécie de frenesi para capturar qualquer detalhe do que estava acontecendo ali dentro. A presença de Dante Osório, o bilionário excêntrico, apenas alimentava as chamas da especulação.

— Vamos ser rápidos e discretos — sussurrou Aline enquanto desciam do carro e se misturavam à multidão.

Eles empurraram caminho entre os repórteres, que gritavam perguntas em várias línguas, os flashes das câmeras iluminando a noite. Os guardas de segurança lutavam para manter a ordem, suas expressões endurecidas pelo caos crescente. Fragmentos de conversas flutuavam até Aline e Junior enquanto passavam: "Esferas de luz voadoras... OVNIs... algo estranho sobre aquele garoto..."

Aline não tinha tempo para processar o que ouvia; a missão era clara. Chegar a Dante Osório.

A recepcionista, visivelmente sobrecarregada respondendo dezenas de pessoas, médicos, jornalistas, policiais, doentes, visitantes, mal ergueu os olhos quando eles se aproximaram do balcão, e num ato falho falou mais do que devia. Aline e Junior trocaram um olhar rápido, a sorte parecia estar do lado deles. Sem muitas perguntas, a recepcionista os instruiu para irem até o 23º andar, quarto 233. Um elevador os levou em um silêncio tenso, o som mecânico das portas fechando-se parecendo mais alto do que realmente era.

Quando as portas se abriram no 23º andar, o corredor estava mergulhado em uma quietude perturbadora, como se o caos do mundo lá fora não pudesse penetrar aquele espaço. O quarto de Dante Osório estava no final do corredor, um sentinela solitário em um andar de luzes baixas e sombras alongadas.

Aline hesitou por um segundo antes de bater na porta, o som ecoando como um sinal de algo que estava prestes a mudar para sempre. Quando a porta se abriu, eles foram recebidos pela visão de Dante, deitado na cama, com um curativo branco envolto em torno de sua cabeça. Ele parecia mais frágil do que Aline havia imaginado, mas seus olhos, mesmo sob o peso da dor, ainda brilhavam com uma intensidade que falava de segredos enterrados.

(Continua...)

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