terça-feira, 21 de maio de 2024

[CONTO] História dentro da história V

 Arthur Ribeiro

Serra do Lago, 09 de Maio de 2006, 12:55.


A criança se acalmava em meio aos soluços, enquanto Marisa olhava a papelada espalhada no lugar. Era branca, recente, nada amarelada. Havia pilhas de papéis, documentos vazados do do tal "DIX" sabe-se lá como. Mas o que lhe chamou mesmo a atenção foi uma folha avulsa datilografada com uma tinta azulada brilhosa. ela não era da época das máquinas de escrever, mas ela sabia que aquele tipo de tinta luminosa não era coisa natural. No entanto, o que realmente a incomodou foi o conteúdo que ela conseguiu ler:

"And Marisa, attempting to evade the clutches of the monster, opted for a leap of faith into the abyss of darkness. She descended into a vast mound of hay that cushioned her fall like a feather pillow. Finding herself in a peculiar chamber, a curious amalgamation of captivity and office space, she espied a young girl ensnared within a cage. Liberating the child from her prison, Marisa proceeded to explore the room, perusing a stack of documents. Her attention was captivated as she read the words of the writer, detailing her very actions in that moment. However, her reverie was interrupted by the plaintive voice of the young girl"

A menina imediatamente começou a falar quebrando a concentração de Marisa.

I was in the garden playing with a school friend when sinister and loathsome figures barged in and abducted us. They sang a haunting lullaby, and the next thing I knew, I awoke here.

Marisa voltou a ler o papel e, a frase que a garotinha falou estava escrita no papel:

"I was in the garden playing with a school friend when sinister and loathsome figures barged in and abducted us. They sang a haunting lullaby, and the next thing I knew, I awoke here."

A cabeça de Marisa girou, sentiu um frio correr pelas suas veias, e tentava entender o que era tudo aquilo, mas não teve tempo de processar a papelada, o texto, nem a fala confusa e assustada da criança, quando uma pancada seca e forte estourou na porta de madeira, com um grito que mais parecia um rugido de leão. A menininha começou a gritar em um tom tão agudo e desesperado, que doía os ouvidos de Marisa.

- Calm down! I will protect you! - Dizia Marisa tentando acalmar a menininha, mas sem ter a mais mínima ideia do que fazer.

As pancadas iam ficando mais fortes e a porta envergava para trás a cada murro, poeira emanava da porta e as dobradiças enferrujadas eram testadas em seus limites mais do que jamais foram. Ambas iam recuando em direção a parede e no campo de visão de Marisa, parecia que a sala ia ficando pequena e quanto mais ela se afastava, mais e mais a porta ia parecendo mais perto. Quando já estavam ambas comprimidas contra a parede dos fundos, Marisa viu o punho da criatura perfurar a porta como se fosse de papel, e seus olhos enegrecidos com um tipo de névoa ondulante preta ao redor do corpo pôde ser visto.

"Era o fim. Acabou." - Pensou Marisa.

Subitamente um feixe de luz invadiu a sala vindo das costas do monstro, e a criatura ganiu como um cão ferido. Fagulhas brilhantes emanavam de seu corpo. Dois disparos altos e poderosos de arma de fogo foram ouvidos, a menininha gritou assustada, e a criatura saiu em incrível velocidade da porta, revelando apenas a silhueta no contraluz do que pareciam ser duas mulheres.

A mulher de trás saiu com sua lanterna para a esquerda, saindo do campo de visão delas, em parte bloqueados pelo buraco na porta. A da frente colocou o rosto no orifício vendo quem estava dentro. E o coração de Marisa desacelerou. Era a delegada Jordan.

- Vocês estão bem? - Perguntou a ruiva.

Marisa correu para a porte puxando a criança pela mão e respondeu que sim.

- Matou a criatura? - Perguntou Marisa.

- Não. Ela apenas fugiu. - Disse Jordan abrindo a porta.

Ao sair, Marisa viu Alexandra e a correu para abraçá-la. Ambas se abraçaram com tanta força, que por um segundo, se poderia crer que entrariam uma dentro da outra. Jordan seguiu olhando para o chão, ela havia visto as duas balas que atirou amassadas, como se tivessem sido disparadas contra uma parede de aço puro. Então a ruiva percebeu que estava indefesa contra o monstro.

Marisa, após largar Alexandra, agachou-se e falou com a menina:

- This is Alexandra, she's my friend! 

A menina olhou pra ginasta com um olhar amistoso e cumprimentou com um "Hi, Alexandra!" trêmulo.

- What's your name, sweetheart? - Questionou a ginasta.

- My name is... - A voz doce da menina foi interrompida pelo urro furioso do monstro, que pareciam fazer tremer as madeiras frouxas do lugar, e por passos pesados vindo da escuridão do outro lado da casa, em algum lugar próximo da cozinha.

- Ele está vindo, precisamos pensar em algo! - Exclamou Marisa.

- Minha informante me pediu para entregar isso a qualquer feiticeira poderosa que estivesse na área, acho que é você. - Jordan tirou um papel do bolso esquerdo do sobretudo e estendeu a mão coberta por uma luva preta na direção de Marisa.

- O que é isso?

- Veja você mesma. Ela disse que você entenderia. - Assentiu a delegada posicionando-se em guarda com a lanterna junto a pistola.

Alexandra e a criança olhavam atônitas e assustadas para Marisa. Marisa desdobrou o papel e leu. E não acreditou.

- Isso é a "Lanterna de Wake!", um feitiço que só minha irmã sabia fazer. Eu não consigo fazer essa magia! - Exclamou Marisa.

- Então acho que minha informante errou o cálculo dela, temos que pensar em algo - Falou Jordan procurando o monstro com sua lanterna agitada.

A conversa não prosseguiu, pois o monstro surgiu correndo em quatro patas como se fosse um rinoceronte furioso e pulou na direção de Alexandra e da criança. Alexandra, que viu de relance o avanço, empurrou a menina pra trás de um caixote de madeira que ali estava e fez um salto mortal pra trás da delegada, numa esquiva pouco provável. No entanto a aterrissagem no escuro, num chão duro e inapropriado, fez com que ela sentisse uma dor terrível no pé que ela havia machucado um ano antes. Ela bambeou e andou de lado quase caindo e se apoiou num barril próximo a porta que havia sido arrastado. Se a criatura a atacasse de novo ela não seria capaz de repetir o feito. Porém, Jordan virou-se rapidamente na direção do monstro e disparou a arma uma vez, a bala ricocheteou na névoa ondulada escura e caiu no chão, porém a lanterna levantou muita faísca quando tocou a névoa, afastando o monstro dela e da criança.

Marisa estava em pânico sem saber o que fazer, quando ouviu a voz de sua irmã na sua cabeça. "Você tem uma runa sobrando sua tola. Gaste-a compensando sua deficiência". Marisa revirou a bolsa, pegou a runa, e escutou ainda quando a delegada disparou mais uma vez na criatura. Dessa vez, a bala tinha passado por uma brecha na armadura nevoenta e arrancou um pouco daquela gosma preta do monstro. ele recuou perante as lanternas de Jordan e Alexandra.

Com a runa na mão, Marisa percebeu que não poderia fazer nada. Já tinha gasto seu uso diário de runas. Mas teve uma ideia, olhou pra delegada e falou: 

- Jordan, use isso. Imagine que sua arma é uma lanterna bem poderosa. E diga "Anhã!".

Com a mão direita, Jordan deixou sua lanterna cair, pegou a runa desenhada cuidadosamente em caneta rosa naquele pedaço de papel recortado, ela segurando a arma com a mão esquerda e com a runa na mão direita fechou os olhos, imaginou uma poderosa lanterna na ponta de sua arma, e gritou: "Anhã!".

A cena que se desenrolou a seguir poderia ser honesta e justamente descrita com a palavra "assombrosa". Jordan apertou o gatilho, mas não saiu um projétil, e sim um poderoso feixe de luz, que iluminou todos os cômodos da casa a tal nível que as paredes pareceram brancas. Todos ficaram cegos por alguns segundos por tamanha e poderosa centelha.

O ganido da criatura virou um tremor de um grito grave de dor desesperado. Ao sucumbir da luz, o monstro ainda estava vivo, porém enfraquecido e parcialmente queimado, todavia sem aquela maldita névoa ondulante que o protegia. Jordan viu a oportunidade que precisava esvaziou o pente da arma na criatura, até seu corpo se desfazer num líquido preto, que prontamente foi incinerado pela lanterna de Alexandra, gritando: "Morra, filho da puta!", ainda que mancasse um pouco.

Marisa caminhou até Alexandra, que estava agachada onde outrora havia uma gosma preta. Tocou o ombro dela, que se levantou. E olhando para Jordan, falou:

- Se o escritor pode manipular a realidade a esse nível, Helena e Souza correm grande perigo, precisamos ir para Vitória urgentemente.

FIM.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

[ARK] DIÁRIO

 Diário de Arthur Reese Koller 2 de outubro A bomba caiu no café da manhã: estamos nos mudando pra uma tal de ilha Drauka. Litoral, mar, bri...