terça-feira, 21 de maio de 2024

[CONTO] História dentro da história IV

 Arthur Ribeiro

Serra do Lago, 09 de Maio de 2006 - 12:45


Alexandra foi arrastada pela mão cheirosa e forte enquanto tentava gritar com sua voz abafada. Quando viu suas pernas agitadas passarem por uma porta de madeira. A mão a soltou então pela primeira vez ela pôde ver seu captor.

O cabelo ruivo e pele parda não negava, menos ainda o sobretudo esvoaçante. Ela suspirou aliviada ao ver a delegada Jordan, que sacava sua pistola do coldre.

- O que duas pirralhas estão fazendo nesse antro de pulsão de morte? - Falava ela enquanto colocava um pente na pistola.

Alexandra, ainda assustada, respondeu: - Viemos a pedido da Helena. Ela queria saber o que estava rolando aqui e nos confiou essa missão.

- Aquela adolescente falsificada está me dando nos nervos, já. - Resmungou a ruiva.

- Ai meu Deus! Eu vi uma criança morta! O monstro a matou! - Alexandra começou a chorar.

- Quem a matou foi um monstro, mas não foi o monstro. - Jordan olhou para a ginasta - Você vai descobrir em breve que no reino dos humanos há monstros muito piores que nas jardas de espaço adjacentes a esse mundo.

- Você também foi atacada pelo monstro?

- Mais ou menos. - A ruiva foi até a porta e olhou pela greta, e ao voltar seu rosto para dentro do cômodo, completou a resposta: - Vim aqui a pedido do cabo Souza. Quando cheguei encontrei a cena que ele descreveu. Um homem morto, envolto em uma gosma preta e com o cérebro a mostra. Isolei a área. E fui coletando as provas. De repente, um vento forte varreu o interior da casa, um vento que veio com uma fumaça preta que se espalhou como neblina por todos os cantos, tornando o ambiente ainda mais escuro. Então, quando acendi minha lanterna, a fumaça se dissipou na direção do feixe de luz como que por mágica. Mas o corpo havia sumido. Eu fui até a porta, em vão, para pegar o sinal do celular para falar com uma informante de confiança. Foi quando eu vi o cadáver uivar como se fosse um lobo do lado da pilha de feno. Ele não me atacou pois apontei a lanterna pra ele, e a porta estava parcialmente iluminada pelo sol da manhã, então fui até a cidade para conseguir falar com minha informante, e ela me disse o que poderia ser. Quando voltei, ouvi a confusão de vocês.

Alexandra acompanhou meticulosamente cada palavra da delegada e falou.

- A criatura parece ser afetada pela luz. Ela agitou a lanterna.

- Sim. Minha informante disse que luzes naturais incomodam um pouco, mas se não for a luz do sol, somente uma luz mágica poderosa poderá afetá-la de forma letal. - Concordou a delegada.

- Marisa está aqui em algum lugar, precisamos achá-la! - Disse Alexandra quase em desespero ao se lembrar da amiga.

A delegada olhou nos olhos da ginasta e simplesmente concordou com a cabeça.

- Preciso antes verificar uma coisa no fim do corredor, porém, a criatura ou o que quer que seja aquilo fez um buraco enorme no chão. - A delegada abriu a porta, colocou a lanterna abaixo do cabo da arma e foi andando em guarda, com a pistola se movendo rápido para os cantos escuros, acompanhados pela lanterna.

Alexandra foi a seguindo a passos lentos. Elas caminharam pela casa por corredores que Alexandra nunca tinha visto. Após alguns passos mais, ela conseguiu ver o buraco no chão onde o monstro saltara. Jordan correu e saltou por cima dele. 

- Venha, menina! Eu te aju... - Jordan não teve tempo de completar a frase: Alexandra com sua destreza e graça da ginástica saltou com facilidade sobre ele.

Alexandra não entendeu, mas viu um sorriso de aprovação na delegada. Ambas seguiram caminhando no silêncio e na penumbra da lanterna até o fim do corredor. Havia portas de ambos os lados e uma no fim do corredor.

- O cabo Souza me disse que aqui havia um portal ou coisa assim. - Falou a delegada ao olhar para a porta final.

Alexandra nem conseguia acreditar como aquele papo de monstros, magia, portais se havia tornado corriqueiro para ela. Parecia algo tão lógico. Tão natural. E no entanto, era uma insanidade!

A delegada pediu que Alexandra apontasse a lanterna para a porta e, com cuidado, com a pistola numa mão e a outra na maçaneta, abriu a porta e a puxou, deixando-a deslizar lentamente. No entanto, ao invés do corredor infinito descrito por Souza, havia apenas uma sala vazia, possivelmente algum lugar onde os faxineiros guardavam coisas de limpeza.

- Era para ter um portal aí? - Perguntou Alexandra.

- Sim, mas aparentemente, sua duração acabou. Chegamos tarde. - Respondeu a parda.

A delegada ainda abriu lentamente as portas próximas, para ver se havia algo interesse. Mas nada que valesse alguma atenção adicional. Havia camas velhas e sinais de que o lugar fora usado recentemente para hospedar alguém.

- Vamos atrás da Marisa, agora! - Falou a delegada, e quando Alexandra ia concordar, um rugido como que de leão cortou o silêncio e o som de dois gritos femininos, mas agudos, soaram em algum cômodo oculto em trevas na casa grande.

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