Esta é uma história de Celso Alencar inspirado no Cenário "Crônicas de Serra do Lago/O Sopro".
Serra do Lago, 2007.
Marjourie
observa o reflexo do rosto da irmã que possuiu, enquanto ainda está de frente
para o espelho e pensa:
Irmãzinha, eu sinto que no âmago de
sua essência, ainda não desistiu, mas você não era assim. O que aconteceu com
aquela garota fraca?
—
Filha! — dona Guilhermina entrou pela porta do banheiro. — Viu a sua irmã? Ela
sumiu.
Marjourie
hesitou ao ver sua mãe, uns anos, mais velha e no fim respondeu: — Dormindo, já
ela acorda.
—
Deixa ela descansar salvar aquelas pessoas do vampiro, deve ter sido cansativo
demais. — afirmou a anciã, fazendo carinho no cabelo da filha, mas sem bagunçar
sequer um fio de cabelo.
Vampiro? — Marjourie
pensou sem entender nada. — Isso não
importa tanto, ainda não controlo o corpo da Marisa completamente, preciso
esmagar a consciência dela.
— Mãe eu vou
meditar um pouco, não deixa ninguém me atrapalhar. — disse a pequena correndo
para a biblioteca.
—
Desde quando você medita? — dona Guilhermina se perguntou, mas não fez tanta
questão de indagar a filha.
Marjourie
praticamente se escondeu na biblioteca, ela era tão experiente em magia, que
apenas com sua meditação conseguia acessar o Oníron, mais precisamente onde
Helena estava.
—
Que coisa lamentável — a bruxa balbuciava enquanto que naquela dimensão,
voltava a ter seu corpo, olhava para a loura presa em uma maca por cordas
grossas. —, você é apenas um animal adestrado.
Helena
gritava na direção de Marjourie, no instante em que médicos alemães furavam
algumas de suas veias.
—
Se não consegue sair disso, não devia nem se considerar uma bruxa, se me der
licença. Vou visitar minha irmã.
A chorosa
Marisa, ao longe vê uma adolescente que se parece em parte com a mesma: — O que
foi irmã? — perguntou para a filha mais nova de dona Guilhermina. — Por que não
desiste?
—
Você sabe o que a mamãe sempre quis, não sabe? Que eu nunca tivesse morrido nem
você nem aquela aberração em forma de criança podem sanar essa demanda, mas eu
consigo. Apenas durma.
—
Mamãe? — Marisa se lembrava de Guilhermina. — Ela não sabe o que aconteceu
aqui...
—
Faz diferença? — Marjourie interrompeu a irmã, sem remorso algum, enquanto
sorria.
—
Nossa mãe, sempre vai preferir a mim, não importa o quanto me imite. Você nunca
saberá magia e nunca, será eu.
Marisa, Marisa? — a
irmã menor lembrava-se da voz de Helena. — Você
não precisa se diminuir para caber em lugares pequenos, sabia? — era uma
conversa que elas tinham tido no carro da família.
—
O que é isso Marisa? Você ousa ficar de pé diante da minha presença? — Marjourie
perguntou-a, com certa irritação.
Você pode ser uma bruxa baseando-se
em runas! — Marisa sorriu ao lembrar-se do conselho
da irmã adotiva e disse para a mais velha: — Eu não sou a filha que ela quer,
mas a que ela tem!
— Ora sua garota desaforada! — Marjourie se transformou em adulta para encarar a
irmã. — Nem aquela coisa presa em um corpo de criança pôde comigo, o que te faz
pensar que conseguirá?
— Helena é uma
irmã melhor do que você jamais tentou ser, a mamãe ficou muito feliz e
sinceramente, eu também. Sabia que ela me ensinou um feitiço? Lembra que as
palavras tem poder?
—
Só para quem sente magia e não é o seu caso. — Marjourie acusou.
—
Vou te ensinar uma palavra nova! — Marisa exclamou. — Geist!
Marjourie
arregalou os olhos ao ver que sua irmã menor se afastava rapidamente, depois de
soprar na direção dela: — Que magia é
essa?
Já
Marisa, definitivamente despertava na biblioteca de sua casa e gritou aos
quatro ventos: — Eu venci! — ela brandia os braços para cima.
—
Derrotei a minha irmã? — perguntou-se. — Essa empolgação e sensação de poder.
Por acaso, é magia?! — Marisa indagou-se.
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