segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Narrativa em RPG: O "in media res" e seus desafios.

Se você já assistiu a um filme ou série que começou com uma cena intensa e cheia de ação, apenas para depois retroceder e explicar como chegamos àquele ponto, você já teve um gostinho de In Media Res. Esta técnica narrativa, que nos joga no meio da ação antes de entendermos totalmente o contexto, pode ser emocionante e cheia de mistério. Mas, como seria trazer isso para a mesa de RPG? Vamos explorar juntos.

In Media Res no RPG? Sim, mas com Desafios:

Imaginem seu grupo de RPG começando uma sessão e, de repente, o mestre narra uma cena onde os personagens estão no meio de uma perseguição frenética ou em um confronto intenso. Parece emocionante, certo? No entanto, na mesa de RPG, onde a história é construída colaborativamente, o In Media Res pode trazer desafios únicos.

Confiança e Colaboração:

Literalmente, o nome da técnica significa em latim "no meio da coisa". Ou seja, a técnica consiste em jogar os personagens no meio de uma situação que eles não entendem. Implementar o In Media Res requer uma confiança sólida entre mestre e jogadores. Os jogadores precisam confiar que o mestre não está apenas tentando ditar o rumo da história sem o envolvimento deles e de que o mestre tem uma carta na manga para unir as pontas da trama e dar sentido a história. Ao mesmo tempo, o mestre precisa confiar que os jogadores estarão dispostos a mergulhar na narrativa, mesmo que inicialmente não tenham todas as informações.

Exemplos Práticos:

Kyle XY (2006-2009) - ABC Family

Contexto:

Na série Kyle XY, temporada 1, episódio 10: Kyle está confuso, pois tem amnésia e não se lembra do casal Peterson, que alega para os Trager que são os verdadeiros pais de Kyle. Nesta altura, Kyle e os Trager já estão bastante apegados um ao outro, de modo que é muito custoso a ambos, mas especialmente a Kyle, deixar sua família adotiva (os Trager) pela que ele agora é informado de que são seus verdadeiros pais, mas da qual ele não se lembra. Mais ainda, durante o tempo em que ficou com a família Trager, Kyle investigou sua origem e tentou recobrar suas memórias sem muito sucesso, mas aquilo que descobriu, era incompatível com o que a família Peterson alegava sobre ele.

Lá pelas tantas, dado o contexto acima, Tom Foss, um personagem misterioso introduzido aos poucos na trama, com toda pinta de que sabia a verdade sobre Kyle e que vinha agindo como uma espécie de Stalker e Guarda-costas de Kyle, se encontra com Kyle e ambos começam a discutir. Quando Kyle exige saber a verdade sobre seu passado, Tom promete responder. 

In media res:

Mas a cena corta para um momento futuro, onde Kyle chega em casa e, surpreendendo a audiência, decide ir embora com os Peterson alegando que havia se lembrado de tudo. Não é mostrado, a princípio, que argumentos Foss usou para convencer Kyle. Assim sendo, transcorre uma cena de Kyle arrumando suas coisas e, ao cabo, uma cena emocionante de Kyle se despedindo da família Trager. Quando Kyle já estava indo embora, a cena corta de volta para o passado, onde se mostra quais argumentos Foss usou para convencer Kyle.

Caso pessoal:

Eu mesmo enquanto jogador experimentei uma forma soft de in media res no ano passado. O meu mestre, Pedro Alex, um verdadeiro cascateiro, começou sua aventura no cenário cyberpunk de Neo-Eden com uma trocação de tiros insana dentro de uma realidade simulada, com os jogadores sem saber porque caralhos estavam ali. Depois que a missão foi concluída com sucesso dentro da realidade simulada, nós somos ejetados pela simulação, com todas as nossas memórias de volta, e aí sim somos explicados que éramos mercenários contratados por um chefão do crime corporativo.

Jordan Ewan - Minha bandoleira de psicopata de cyberpunk que jamais esquecerei.

A Beleza do Desconhecido:

Em resumo, utilizar In Media Res em mesas de RPG pode ser desafiador, mas é a confiança mútua que permite que essa técnica brilhe. É a beleza de começar no meio da ação, da colaboração entre mestre e jogadores, e do mistério que fazem essas narrativas tão cativantes. Portanto, da próxima vez que sua sessão de RPG começar com um estrondo dramático, abrace a incerteza com confiança. O desconhecido pode ser o palco das aventuras mais memoráveis.

Espero que você e seu grupo tenham ótimas experiências explorando essas narrativas inovadoras!


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