terça-feira, 6 de julho de 2021

[Contos] O mistério do "Vale do Nada" - Parte 3

Velaski estava sentado em sua cama enquanto tentava não olhar no rosto de seus pais. Sua mãe, uma mulher batalhadora e trabalhadora manifestava grande desapontamento pelo filho. O pai, cuja presença era meramente simbólica, estava manifesto numa foto dentro de um porta-retratos sobre a mesa de cabeceira da cama, com olhos semicerrados e focados em quem o observa, como se o julgasse desde cima.

Velaski sempre fora o garoto problema da família, não foram poucas vezes que a mãe teve de sair do trabalho para ir a escola para resolver seus problemas disciplinares, ás vezes com brigas, ás vezes com vandalismo, enfim. Após sair do ensino médio e após não conseguir se estabelecer na vida, tendo tido tantos empregos quanto meses no ano, Velaski decidiu apostar na via do crime. Nada excessivamente grave, pequenos furtos e punga. Mas mesmo no seu caos interior Velaski tinha uma noção bastante aprofundada de certo e errado, sabia que o que fazia e como se comportava era errado. Mas era mais forte que ele. Ele sempre sentia um impulso profundo, como que vindo do mais inacessível espaço do espírito que lhe levava a fazer as coisas que nem sempre desejava. Quando furtava, furtava apenas o necessário para si ou coisas de pequeno valor, como canetas, lixas de unha ou pendrives. Quando batia uma carteira, retirava o dinheiro e deixava os documentos, punha a carteira em algum lugar visível para que pelo menos os documentos fossem recuperados. Certa vez, roubou uma carteira com vários cartões de crédito. Deixou os documentos, afanou o dinheiro e jogou os cartões no esgoto. Não queria que outro oportunista desse golpes maiores nas pessoas.

Certo dia, no centro de Pelotas, viu um homem forte "dando mole" com a carteira, oportunidade perfeita. Imediatamente cercou-o e pegou com seus dedos leves a carteira. Para sua infelicidade, uma mulher numa sacada de prédio (que ele não havia percebido) viu seu movimento semi-malicioso e gritou. O homem virou-se, agarrou seu braço e o agrediu várias e várias vezes. A vizinha chamou a polícia e Velaski foi encaminhado a delegacia. Após algumas horas a mãe chegou a DP com um defensor público e com suas parcas economias para pagar uma fiança. O retorno para casa foi a parte mais branda, já que um silêncio enorme se manteve entre os dois. Foi em casa que a coisa não ficou boa. Sua mãe, irritada, jogou a bolsa no sofá com força e arremessou um copo americano no chão da cozinha.

Velaski se assustou. nunca vira a mãe tão irritada.

- Você é uma decepção na minha vida! - Disse ela entre lágrimas e grunhidos de ódio.

- M-ma-mãe? - A voz de Velaski mal saía.

- Eu não vou deixar você se perder na vida... Não... Não mais do que já se perdeu! - Diz ela com ódio na voz.

- Desculpa, eu não sei o que... - Velaski não teve tempo de terminar quando sua mãe ergue a voz como um trovão apertando seu pulso.

- Eu tenho um irmão que se mudou para uma cidade no interior a 3 anos. Nunca mais falei com ele, mas ele era rígido com os filhos e você vai ficar com ele. Vou te mandar pra lá! - Diz ela.

- Lá? Onde?

- Crescente. 

Velaski pausa seus raciocínios um segundo e pensa: - Que lugar é esse? Nunca ouvi falar.

- Como vou achá-lo se você não tem contato com ele? - A voz de Velaski sai meio gaguejada.

- É uma cidade pequena. Se vire. Quem tem boca vai a Roma. - Disse ela sem muita esperança.

No dia seguinte Velaski entrava num ônibus enquanto era observado pela sua mãe, um ônibus com ndestino a morte certa.


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