sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Explorando o RPG com Técnicas dos Criadores de "Efeito Borboleta"


Você já se perguntou como os mestres do cinema podem influenciar a narrativa do seu jogo de RPG? Imagine incorporar a maestria de roteiristas renomados, como Eric Bress e J. Mackye Gruber, para adicionar camadas de complexidade e reviravoltas à sua história. Neste blog, vamos explorar algumas técnicas desses criadores e descobrir como podem transformar sua próxima sessão de RPG em uma experiência inesquecível.

1. Embarque na Narrativa Não Linear:

Você já considerou contar sua história de RPG de uma forma não linear? Assim como em "Efeito Borboleta", revele informações importantes de maneira fragmentada. Use flashbacks, visões e reviravoltas para manter seus jogadores intrigados, sem nunca saberem o que virá a seguir.

2. Aprofunde as Consequências das Ações:

Que tal adotar a filosofia de que cada ação tem uma consequência? Mostre aos seus jogadores como escolhas aparentemente pequenas podem ter um impacto dramático na trama, tornando cada decisão significativa e imersiva. Uma forma interessante é sempre que um jogador alterar a linha do tempo no passado (esse esquema funciona bem para jogos de viagem no tempo), você pedir bastante detalhes para que tipo de alteração o jogador pretende fazer. Se você achar, com base na descrição, que a alteração será ruim adicione um redutor de -1 ou -2 na jogada que descreveremos a seguir. Se você acha que a alteração foi bem pensada, adicione +1 ou +2. Depois role 2d6.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

[CONTO] O menino

Serra do Lago-ES, 28 de Maio de 2007.

A bruma da manhã envolvia os casarões coloniais à beira do Lago dos Eucaliptos, conferindo à pequena cidade de Serra do Lago um ar enigmático e melancólico. As ruas de paralelepípedos, ladeadas por árvores antigas e cascatas de bougainvilles, sussurravam histórias de tempos passados, enquanto o vento brincava com os reflexos dourados que dançavam sobre as águas calmas do lago.

Jordan Ewan, a delegada de polícia, caminhava com passos hesitantes pelas vielas silenciosas da cidade que um dia chamou de lar. Vinte anos haviam se passado desde que sua mãe partira em busca de novos horizontes nos Estados Unidos, mas agora o destino a trazia de volta, como se as memórias do passado a chamassem de volta para desvendar mistérios enterrados sob as sombras do bosque dos Alves.

Ao receber o comunicado sobre o estranho incidente no bosque, um arrepio percorreu a espinha de Jordan. O menino nu, desprovido de qualquer identificação genética ou digital, jazia desacordado entre as árvores centenárias, como se fosse uma criatura perdida em um conto esquecido. E, no entanto, nenhum registro de seu desaparecimento constava nos arquivos oficiais, como se ele fosse uma sombra entre os vivos, uma anomalia na ordem estabelecida.

A cidade, com suas fachadas caiadas e suas vielas estreitas, guardava segredos tão antigos quanto as próprias pedras que a sustentavam. E agora, enquanto o sol se erguia lentamente sobre os telhados de terracota, lançando uma luz pálida sobre as ruas desertas, Jordan sabia que estava prestes a mergulhar em um mistério que desafiaria não apenas as leis da física, mas também as fronteiras entre o real e o desconhecido. Jordan adentrou a Delegacia de Polícia de Serra do Lago com uma mistura de nostalgia e apreensão. O prédio de fachada colonial exibia marcas do tempo, suas paredes de pedra testemunhando incontáveis histórias de crime e justiça. O aroma familiar de café recém-passado flutuava pelo ar, mesclado com o odor de papel envelhecido e tinta de impressora.

Ao atravessar o saguão movimentado, Jordan foi recebida com olhares curiosos e murmúrios sussurrados entre os colegas de trabalho. Eles não se cansavam de admirar a beleza da ruiva de pele parda e olhos azuis, uma combinação rara de fenótipos anglo-saxões e brasileiros. Ela se dirigiu à mesa da secretária de ofícios, onde a figura cativante da subtenente Bete Ahien se erguia em meio ao frenesi matinal.

"Bom dia, delegada!" Bete cumprimentou com um sorriso travesso, seus olhos castanhos brilhando com vivacidade. "Parece que o retorno da nossa estrela perdida está causando um rebuliço por aqui."

Jordan sorriu, sentindo-se grata pela recepção calorosa. "Bom dia, Bete. Parece que nada mudou por aqui, exceto a quantidade de papelada na sua mesa", respondeu, apontando para a pilha de documentos que pareciam desafiar a gravidade.

Bete soltou uma risada franca. "Pois é, delegada, a burocracia nunca tira folga, nem mesmo para receber uma celebridade como você de volta à ativa após as férias."

A delegada balançou a cabeça em resignação antes de mudar o tom da conversa. "Então, o que você sabe sobre o garoto encontrado no sempre "creepy" bosque dos Alves?"

Bete ergueu uma sobrancelha, pegando um arquivo empoeirado em sua mesa. "Ah, esse mistério. Chegou o caso hoje de manhã. O pobre garoto foi levado para o Conselho Tutelar do município. Estranho, não é? Sem registros, sem identificação... É como se ele tivesse surgido do nada."

Enquanto Bete detalhava os eventos da manhã, Jordan assentiu que sim com a cabeça, ela observava atentamente, absorvendo cada palavra como peças de um quebra-cabeça que começava a se formar em sua mente.

Jordan pegou o arquivo nas mãos e entrou em sua sala. Fechou as persianas e olhou para o nada pensativa. Deslizou os dedos cansados sobre a pilha de documentos, sua mente vagando por um mar de lembranças e desafios. Desde que regressara à cidade há quatro anos, cada dia parecia trazer consigo uma nova dose de peripécias e dramas, como se o destino insistisse em testar os limites de sua determinação.


Em 2004, enfrentara o infame caso Ludovica, uma teia de mentiras e traições que quase custou-lhe a sanidade. No ano seguinte, fora confrontada com uma articulação sinistra de eventos que a Prefeitura e o DIX encobriram sob a alcunha de "Grande Erupção Polar", uma tragédia que ceifara a vida de 23 inocentes, deixando cicatrizes indeléveis na alma da cidade. E quem poderia esquecer o quiproquó envolvendo um ex-prefeito no início de 2006, um escândalo político que agitou as fundações do poder local?

E agora, enquanto mergulhava nas entranhas do misterioso caso do garoto encontrado no bosque dos Alves, Jordan não podia deixar de sentir o peso dos anos sobre seus ombros. A papelada à sua frente revelava uma conexão intrigante: o local onde o menino fora encontrado ficava próximo ao complexo do DIX, um grande elefante branco que ninguém sabia ao certo para que ou porque existia.

Uma faísca de compreensão acendeu-se em sua mente exausta, e Jordan sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Seria possível que o DIX estivesse envolvido neste enigma? Seria este o elo perdido que ligava o garoto sem passado às sombras do desconhecido? Ela revirou a papelada e confirmou que o rapazote havia sido mesmo encontrado nas proximidades da base.

Um momento "Eureka!" tomou conta dela, e Jordan ergueu-se abruptamente de sua cadeira, o sobretudo batendo nos móveis enquanto se esvoaçava em seu despertar súbito. Ela chamou por Bete Ahien com urgência, seus olhos ardendo com a promessa de descoberta iminente.

"Vamos, Bete", ela disse, sua voz carregada de determinação. "Há um lugar que precisamos visitar. E rápido."

O carro cortava as ruas tranquilas de Serra do Lago, rumo ao coração da cidade. Jordan sentia o peso do silêncio entre ela e Bete Ahien, cujo olhar atônito refletia a tensão que pairava no ar. Enquanto isso, a paisagem urbana desfilava diante delas, os casarões coloniais e os cafés pitorescos testemunhando os segredos enterrados sob suas fachadas coloridas. Finalmente, o veículo parou diante de um imponente edifício de frente para a avenida Beira-Lago, com vista privilegiada do lago sereno e da majestosa Igreja ao longe.

Bete olhou surpresa, apontou e disse:

- Conheço esse lugar. Não é o prédio onde sua amiga Daniele mora?

- Sim. - Disse ela concentrada e monótona.

- Ela não estava em Buenos Aires cursando alguma coisa?

- Um doutorado em arqueologia em Montevidéu. Mas não é com ela que vim falar. - Disse Jordan abrindo a porta do carro com a mão direita enquanto a esquerda segurava um copo fumegante de café que começou a beber aos bebericos ainda na DP, que trouxera cuidadosa num porta-copos sobre o painel da viatura.

Jordan e Bete adentraram o prédio, suas sombras projetadas pelos raios do sol das 8 da manhã que atravessavam as janelas. Ao alcançarem o apartamento dos Ribeiro, Jordan sentiu um arrepio percorrer sua espinha, como se estivesse prestes a confrontar fantasmas do passado que se recusavam a serem esquecidos, como na noite da “Grande Erupção Polar”, que ainda  assombrava com garras fantasmagóricas e cortantes surgindo a partir da névoa densa e fria.

Archier Ribeiro as recebeu com a calma habitual, seus olhos escuros observando-os com uma intensidade que não escapava à percepção aguçada de Jordan. Ele parecia um homem de honra, seu porte sereno e sua voz tranquila transmitindo uma aura de mistério que intrigava e inquietava ao mesmo tempo.

Enquanto Bete aguardava na porta com um olhar perplexo, Jordan conduziu o interrogatório como uma amiga preocupada, sondando cuidadosamente as profundezas da mente de Archier em busca de respostas esquivas. Ele sempre parecia saber mais do que deixava transparecer, seus enigmas envolvendo-o em um manto de suspeita que teimava em se dissipar.

"Archier", começou Jordan, sua voz ecoando no silêncio tenso do apartamento, "precisamos falar sobre o garoto encontrado no bosque dos Alves. Você sabe alguma coisa sobre isso?" Um sorriso enigmático brincou nos lábios de Archier, seus olhos reluzindo com uma luz demiúrgica. "Ah, o mistério do garoto sem passado. Interessante como o destino tece seus fios invisíveis, não acha?"

A delegada arqueou uma sobrancelha, a curiosidade aguçada. "Você sabe algo que não estamos sabendo, Archier?"

Ele assentiu lentamente, sua expressão grave. "Há sempre mais do que podemos ver, Jordan. Mas talvez seja melhor você ouvir isso diretamente do garoto."

Jordan piscou, surpresa pela sugestão. "Eu não sei como ainda me surpreendo com você depois de tudo. Mas falar com o garoto? Por quê? Consta nos registros que ele não tem nenhuma memória."

Archier sorriu enigmaticamente, sua figura imersa em sombras de mistério. "Algumas respostas estão além das palavras, minha amiga. Às vezes, é preciso ouvir o silêncio para encontrar a verdade. E em alguns casos, é mais curioso ainda ver a verdade quando se olha pra ela."

- Tenho vontade de te perguntar como você sabe das coisas que sabe. Mas como você sempre é um informante precioso e sei que não vai sair do seu papel reprisado de mestre dos magos, vou aguardar um pouco mais até poder perguntar isso oficialmente. Uma hora você não me escapa. Diz Jordan sorrindo e ameaçando.

Archier sorriu sarcasticamente enquanto Jordan se levantava e colocava seu sobretudo. Um calafrio percorreu a espinha de Jordan. Com um aceno grave, ela se despediu de Archier, a mente já trabalhando nas próximas etapas de sua investigação.

- Porque viemos aqui, afinal? - Perguntou Bete. - Não ficamos nem 10 minutos.

- Nem eu mesma sei. Archier tem o poder de ser o juiz da minha consciência. Não me pergunte como ou porquê, mas ele sempre sabe o que dizer ao certo. - Respondeu a ruiva.

O carro parou diante do Conselho Tutelar, um prédio modesto de tijolos enegrecidos pelo tempo, suas janelas em arco olhando para o mundo com uma expressão de resignação. Jordan permaneceu sentada por um momento, respirando fundo para reunir sua coragem. Casos envolvendo crianças sempre a abalavam, um eco doloroso do histórico de sua mãe e de suas próprias experiências. Ao seu lado, Bete iniciou uma torrente de conversa trivial, mencionando Daniele e o irmão, Augusto, em um tom jocoso.

"Você não acha, Jordan, que a Daniele é meio tapada de ter ido para Buenos Aires estudar sei-lá-o-quê e ainda fircar esse tanto tempo com o Archier num casamento a distância? E o Augusto? Ele tá caidinho por você...", brincou Bete, cutucando Jordan no cotovelo.

Jordan sorriu de leve, embora sua mente estivesse em outro lugar. "Já disse. Ela está em Montevidéu” corrigiu Jordan com tom de voz seco. Percebendo, porém, que pode ter soado desajeitada com a amiga, tentou logo contornar... “Ah, Bete, cada um tem seus mistérios. Quem sabe o que atrai as pessoas uns aos outros, não é mesmo?" Adentrando o Conselho Tutelar, Jordan foi recebida por um ambiente melancólico. Funcionários aborrecidos arrastavam-se pelos corredores, como se fossem almas penadas arrastando correntes matinais. Finalmente, uma funcionária chamada Solange a atendeu, trocando informações sobre o caso do garoto encontrado no bosque dos Alves.

"É uma situação triste, delegada", disse Solange com um suspiro pesaroso. "Esse menino tem algo especial nele, algo que mexe com todos nós aqui. Mas ele precisa encontrar uma família, alguém que possa cuidar dele de verdade. Acho que ele não dura muito no sistema, e acha alguém logo para a adoção, mas seria muito triste uma criança tão boa e doce não ter uma mãe que se importe."

Curiosa, Jordan pediu para falar com o menino. Bete seguiu-a em silêncio, seus passos ecoando como um eco vazio no ambiente sombrio do conselho, enquanto Solange a guiava a uma sala onde havia alguns puffs coloridos e um tapete de EVA espesso em forma de quebra-cabeças. Na mesa um quebra-cabeças de mais 40 peças montado com a imagem de um circo de lona colorida. O menino, de cabelos cor de bronze e olhos castanhos, estava de costas quando Jordan o viu pela primeira vez, olhando perdido para a janela que dava para um terreno baldio sujo e enlameado.

"Olá, Como você está?", perguntou Jordan com gentileza.

O menino virou-se lentamente, um jovem adolescente de 15 anos, um sorriso tímido curvando seus lábios. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, Jordan sentiu seu coração pulsando de ternura enquanto o menino andou em sua direção.

"Mãe!", exclamou o menino, lançando-se nos braços de Jordan com uma mistura de alegria e alívio. Jordan envolveu-o em um abraço caloroso, as lágrimas em seus olhos refletindo o turbilhão de emoções que a envolvia. Tão puro. Tão verdadeiro. Talvez fosse mãe dele mesmo, se não fosse pelo incômodo fato de que não era. Nem Bete e nem Jordan sabia o que estava acontecendo, mas por um segundo, sentiram que aquilo era verdade.

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